Brasil e o mundo atentos ao que esperar de Bolsonaro
Rio de Janeiro, 29 Out 2018 (AFP) - Os brasileiros, os parceiros do Brasil e os mercados estavam atentos nesta segunda-feira (29) a sinais concretos do que esperar de Jair Bolsonaro, eleito neste domingo presidente da maior potência latino-americana.
A imprensa brasileira deu destaque às promessas do capitão do Exército da reserva e admirador da ditadura militar (1964-1985) de respeitar "a Constituição, a democracia e a liberdade".
O jornalista e ex-deputado Fernando Gabeira, que foi guerrilheiro, preso político e exilado durante o regime militar, prefere deixar esquecer as explosivas declarações misóginas, homofóbicas e Bolsonaro e afirmou que na Câmara de Deputados é possível encontrar terreno para entendimento com o presidente eleito.
"Minha atitude com Bolsonaro será a que sempre adotei durante os anos de convivência: respeito ao argumentar nos pontos divergentes e estímulo a seus movimentos positivos", escreveu Gabeira em sua coluna no jornal O Globo, antes de reconhecer que "alguns leitores condenam essa visão, sob o argumento de que normaliza a barbárie".
- Com Trump, até onde? -O presidente Donald Trump afirmou nesta segunda que acertou com Bolsonaro "trabalhar estreitamente em temas comerciais, militares e tudo mais".
Um desejo expressado pelo presidente americano que faz alguns observadores pensarem na situação do governo socialista venezuelano, em pleno marasmo econômico e social.
Os Estados Unidos já sondaram países da região sobre uma opção militar para derrubar o presidente Nicolás Maduro, sem encontrar maiores ecos até agora. Segundo Amado Cervo, professor emérito de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), também não encontrará com Bolsonaro.
"O Brasil tem uma tradição de autonomia" e isso não vai mudar porque "os militares e o Bolsonaro estão impregnados com a índole brasileira não intervencionista", assegura.
A vitória de Bolsonaro coroa e acentua uma guinada para a direita na América Latina, depois do ciclo de governos de esquerda da primeira metade do século.
Sua posse no dia 1o. de janeiro pode alterar prioridade diplomáticas. Sua primeira visita oficial será ao Chile, um país de referência para dirigentes com agendas econômicas liberais. Sobre o Mercosul, no entanto, Bolsonaro não disse uma palavra sequer desde sua eleição.
- Mercados na espera - Os mercados receberam sem euforia a eleição de Bolsonaro, à espera que o ultra-direitista convertido ao liberalismo dê sinais concretos de como pretende implementar seu programa de reformas.
A Bolsa de São Paulo abriu em alta de mais de 3%, mas no início da tarde retrocedia 1,28%. O dólar chegou a ser cotado a menos de 3,60 reais pela primeira vez desde abril (frente aos R$ 3,65 do fechamento de sexta), antes de perder terreno, sendo negociado a 3,634 reais.
O ultraliberal Paulo Guedes, a quem Bolsonaro prometeu o Ministério da Fazenda, confirmou seu compromisso com um programa de privatizações e uma reforma do regime de Previdência.
Mas, no momento, ninguém sabe o conteúdo exato dessas reformas ou se terá o apoio de um Congresso com cerca de trinta partidos.
"O programa econômico de Bolsonaro não tem nenhuma avaliação de impactos (...). Além disso, sua maior proposta - reduzir a zero em 2019 o déficit fiscal primário não é realista", afirma uma nota de conjuntura da asseguradora Euler Hermes.
- As guerras do capitão -Bolsonaro denunciou sem cessar, durante a campanha, o PT de Fernando Haddad e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujo governo é, para milhões de eleitores, sinônimo de corrupção, crise econômica e uma tolerância comportamental que agride as igrejas evangélicas, grandes aliadas do presidente eleito.
Em seu primeiro discurso após a vitória, ele voltou à carga: "Não podemos continuar flertando com o socialismo, o comunismo, o populismo e o extremismo de esquerda".
"Na cabeça do presidente eleito, formatada nos anos 60 do século passado, corrupção e dissolução moral seriam traços indissociáveis de regimes democráticos. O transplante do discurso da Guerra Fria para o mundo atual pediu algumas adaptações, mas o ideário do capitão continua pautado no 'perigo vermelho'", escreveu o economista Fernando Limongi em uma coluna do jornal Valor.
Bolsonaro chegou ao poder com propostas para proteger judicialmente as operações policiais e flexibilizar o porte de armas para combater o crime.
Ele também anunciou sua intenção de acabar com o "ativismo ambiental" radical na preservação da floresta amazônica.
O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que Paris "quer continuar sua cooperação com o Brasil em um quadro de respeito pelos valores [democráticos]".
Haddad, por sua vez, se posicionou como o virtual líder da oposição e exigiu respeito por seus 45 milhões de eleitores.
Nesta segunda, desejou "sucesso e boa sorte" a Bolsonaro.
No domingo, nem Bolsonaro, nem Haddad se referiram um ao outro em seus discursos.
A imprensa brasileira deu destaque às promessas do capitão do Exército da reserva e admirador da ditadura militar (1964-1985) de respeitar "a Constituição, a democracia e a liberdade".
O jornalista e ex-deputado Fernando Gabeira, que foi guerrilheiro, preso político e exilado durante o regime militar, prefere deixar esquecer as explosivas declarações misóginas, homofóbicas e Bolsonaro e afirmou que na Câmara de Deputados é possível encontrar terreno para entendimento com o presidente eleito.
"Minha atitude com Bolsonaro será a que sempre adotei durante os anos de convivência: respeito ao argumentar nos pontos divergentes e estímulo a seus movimentos positivos", escreveu Gabeira em sua coluna no jornal O Globo, antes de reconhecer que "alguns leitores condenam essa visão, sob o argumento de que normaliza a barbárie".
- Com Trump, até onde? -O presidente Donald Trump afirmou nesta segunda que acertou com Bolsonaro "trabalhar estreitamente em temas comerciais, militares e tudo mais".
Um desejo expressado pelo presidente americano que faz alguns observadores pensarem na situação do governo socialista venezuelano, em pleno marasmo econômico e social.
Os Estados Unidos já sondaram países da região sobre uma opção militar para derrubar o presidente Nicolás Maduro, sem encontrar maiores ecos até agora. Segundo Amado Cervo, professor emérito de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), também não encontrará com Bolsonaro.
"O Brasil tem uma tradição de autonomia" e isso não vai mudar porque "os militares e o Bolsonaro estão impregnados com a índole brasileira não intervencionista", assegura.
A vitória de Bolsonaro coroa e acentua uma guinada para a direita na América Latina, depois do ciclo de governos de esquerda da primeira metade do século.
Sua posse no dia 1o. de janeiro pode alterar prioridade diplomáticas. Sua primeira visita oficial será ao Chile, um país de referência para dirigentes com agendas econômicas liberais. Sobre o Mercosul, no entanto, Bolsonaro não disse uma palavra sequer desde sua eleição.
- Mercados na espera - Os mercados receberam sem euforia a eleição de Bolsonaro, à espera que o ultra-direitista convertido ao liberalismo dê sinais concretos de como pretende implementar seu programa de reformas.
A Bolsa de São Paulo abriu em alta de mais de 3%, mas no início da tarde retrocedia 1,28%. O dólar chegou a ser cotado a menos de 3,60 reais pela primeira vez desde abril (frente aos R$ 3,65 do fechamento de sexta), antes de perder terreno, sendo negociado a 3,634 reais.
O ultraliberal Paulo Guedes, a quem Bolsonaro prometeu o Ministério da Fazenda, confirmou seu compromisso com um programa de privatizações e uma reforma do regime de Previdência.
Mas, no momento, ninguém sabe o conteúdo exato dessas reformas ou se terá o apoio de um Congresso com cerca de trinta partidos.
"O programa econômico de Bolsonaro não tem nenhuma avaliação de impactos (...). Além disso, sua maior proposta - reduzir a zero em 2019 o déficit fiscal primário não é realista", afirma uma nota de conjuntura da asseguradora Euler Hermes.
- As guerras do capitão -Bolsonaro denunciou sem cessar, durante a campanha, o PT de Fernando Haddad e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujo governo é, para milhões de eleitores, sinônimo de corrupção, crise econômica e uma tolerância comportamental que agride as igrejas evangélicas, grandes aliadas do presidente eleito.
Em seu primeiro discurso após a vitória, ele voltou à carga: "Não podemos continuar flertando com o socialismo, o comunismo, o populismo e o extremismo de esquerda".
"Na cabeça do presidente eleito, formatada nos anos 60 do século passado, corrupção e dissolução moral seriam traços indissociáveis de regimes democráticos. O transplante do discurso da Guerra Fria para o mundo atual pediu algumas adaptações, mas o ideário do capitão continua pautado no 'perigo vermelho'", escreveu o economista Fernando Limongi em uma coluna do jornal Valor.
Bolsonaro chegou ao poder com propostas para proteger judicialmente as operações policiais e flexibilizar o porte de armas para combater o crime.
Ele também anunciou sua intenção de acabar com o "ativismo ambiental" radical na preservação da floresta amazônica.
O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que Paris "quer continuar sua cooperação com o Brasil em um quadro de respeito pelos valores [democráticos]".
Haddad, por sua vez, se posicionou como o virtual líder da oposição e exigiu respeito por seus 45 milhões de eleitores.
Nesta segunda, desejou "sucesso e boa sorte" a Bolsonaro.
No domingo, nem Bolsonaro, nem Haddad se referiram um ao outro em seus discursos.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.