Topo

Tshisekedi presta juramento em transição histórica e contestada na RDC

24/01/2019 17h32

Kinshasa, 24 Jan 2019 (AFP) - O opositor Félix Tshisekdi se tornou oficialmente, nesta quinta-feira (24), o quinto presidente da República Democrática do Congo (RDC), na presença de seu antecessor, Joseph Kabila, mas na ausência do outro opositor, Martin Fayulu, que contesta sua vitória.

Tshisekedi, de 55 anos, recebeu os símbolos do poder de Joseph Kabila, de 47 anos, em uma cerimônia no Palácio da Nação, sede da presidência. Esta é a primeira transmissão pacífica de poder desde a independência do país, em 1960.

Por causa do calor, da emoção e também do peso de um colete à prova de balas, Tshisekedi passou mal por mais de 10 minutos, obrigando-o a interromper seu discurso de posse.

Reconhecendo o momento de fraqueza, o presidente recém-empossado se desculpou "com o presidente da República", Joseph Kabila, "com nossos distintos convidados". A emissora estatal RTNC interrompeu a transmissão ao vivo da cerimônia durante este período. "Não estou bem", havia dito Tshisekedi.

Com a exceção do Quênia, representado por seu presidente, Uhuru Kenyatta, a maioria dos países africanos enviou delegados de escalão inferior: Tanzânia, Gabão, Namíbia, Marrocos, Burundi, Angola, Congo-Brazzaville, Egito.

Os Estados Unidos e os países europeus foram representados por seus embaixadores.

Em certa medida o protocolo foi perturbado pelos partidários de Tshisekedi, os "combatentes" de seu partido, União para a Democracia e o Progresso Social (UDPS), que se convidaram para entrar no Palácio da Nação.

"Félix não se esqueça, papai disse: o povo primeiro", entoava a multidão em referência ao pai do novo presidente, o opositor Etienne Tshisekedi, falecido em Bruxelas em 1º de fevereiro de 2018.

Em seu discurso, Tshisekedi prometeu trabalhar pela libertação dos presos políticos.

"O ministro da Justiça será responsável pelo recenseamento de todos os presos políticos, de opinião ou assimiláveis, no conjunto do território nacional, para a sua libertação em breve", afirmou.

Em uma mensagem de despedida, na quarta à noite, Kabila animou os "líderes políticos" a privilegiar uma "coalizão" ao invés de uma "coabitação".

Mas este feito histórico é contestado pelo outro candidato opositor, Martin Fayulu, que acusa ambos (Tshisekedi e Kabila) de roubá-lo a vitória nas urnas.

Esta é a primeira transição de poder civilizada na história do país, como lembrou desde o início do dia a emissora estatal RTNC.

Amplamente favorável a Kabila (337 cadeiras de 500), a Assembleia Nacional retomará sua atividade na segunda-feira, quase um mês depois das eleições, ocorridas em 30 de dezembro.

Entre esta maioria, Tshisekedi terá que escolher o seu primeiro-ministro. A imprensa local especula os nomes do diretor do gabinete de Kabila, Nehemiah Mwilanya Wilondja, e do empresário bilionário Albert Yuma, próximo ao presidente em fim de mandato.

Os pró-Tshisekedi e os pró-Kabila assinaram um "acordo de coalizão política" e uma "divisão de poder", segundo um documento ao qual a AFP teve acesso.

O mesmo estabelece que as pastas-chave (Relações Exteriores, Defesa e Interior) devem ser atribuídas ao entorno político do presidente eleito.