Topo

UE demonstra prudência diante de acontecimentos na Venezuela

24/01/2019 15h59

Bruxelas, 24 Jan 2019 (AFP) - A União Europeia (UE) mostrou extrema prudência sobre a atitude a adotar na crise venezuelana, que evolui rapidamente, tentando não queimar uma iniciativa de diálogo em um país com uma forte comunidade europeia.

Nem a favor, nem contra, nem todo o contrário. A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, em nome dos 28, pediu que ouçam o "chamado maciço à democracia" do povo da Venezuela e solicitou a realização de "eleições livres", mas não reconheceu Guaidó como presidente interino.

"A UE não reconhece os governos, somente os Estados", defendeu a porta-voz da diplomacia comunitária Maja Kocijancic. Mas, como confessa um diplomata europeu, "a declaração de Mogherini é o máximo que podia ser feito" de forma unânime pelos 28.

Diferentemente dos Estados Unidos, que reconheceu em menos de 30 minutos a autoproclamação de Guaidó, os europeus demoraram a marcar sua posição, que chegou depois que o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, pediu que se unissem "em apoio às forças democráticas".

"A postura europeia é bastante razoável" diante da situação "confusa" e "mutável", disse a AFP o pesquisador do Real Instituto Elcano Carlos Malamud, para quem "manter a cabeça fria e favorecer as posturas de diálogo em ambos os setores não é uma posição ruim".

"A nossa posição é mais suave porque o contexto impõe prudência", explicou o diplomata europeu. E tudo isso apesar de os Estados Unidos "terem informado previamente da sua decisão" de reconhecer Guaidó, revelou outro diplomata europeu.

Uma amostra do difícil equilíbrio no seio da União Europeia é o incômodo do chanceler espanhol, Josep Borrell, nesta quinta-feira, pelo "protagonismo" que "alguns" querem ter, depois do tuíte do presidente francês, Emmanuel Macron, no qual qualificava de "ilegítima" a eleição do presidente Nicolás Maduro.

- 'Romper todas as pontes' -Desde a morte de 125 pessoas entre abril e julho de 2017 em manifestações opositoras, e a posterior eleição de uma governista Assembleia Constituinte, a UE sempre resistiu em romper os canais de comunicação com Maduro, apesar de já ter adotado sanções.

A porta-voz comunitária, que por 17 minutos respondeu a questões relacionadas à Venezuela em coletiva de imprensa, confirmou que a opção de lançar um Grupo de Contato Internacional para alcançar uma solução negociada "continua sobre a mesa, mas agora estão focando na situação atual".

Para Malamud, se a UE "reconhecer Guaidó como a única autoridade legítima da Venezuela, isso supõe romper todas as pontes com o chavismo", recordando que a falta de diálogo entre governo e oposição complicou a "saída de ditaduras" no Egito e na Líbia.

O também catedrático da universidade espanhola UNED considera como "uma solução possível" esse grupo de contato e assegura que, diante da polarização lógica dos países americanos a favor e contra Maduro, a UE poderia se apoiar em sócios como México e Uruguai, que têm "uma posição intermediária".

De Davos, o presidente espanhol, Pedro Sánchez, falou nesta quinta-feira com Guaidó para explicar a posição da UE "em favor da realização de eleições livres", o que também expôs aos presidentes de Colômbia, Equador e Costa Rica na cidade suíça.

- 'Principal preocupação' -A comunidade de europeus na Venezuela, "um milhão" segundo Borrell, e a instável situação no país, onde organismos de direitos humanos dão um balanço de ao menos 16 mortos desde terça-feira no âmbito dos protestos contra Maduro, também explicam a extrema cautela.

A primeira reação do chanceler espanhol na quarta-feira foi que "a nossa principal preocupação é a situação da colônia espanhola no país". Seu contraparte alemão, Heiko Maas, apelou de Washington que assegurem que "a violência não exploda nas ruas e ninguém saia ferido".

A UE monitora a situação, principalmente quando Maduro conta com o apoio do Exército e a oposição convocou uma grande marcha para o início de fevereiro. O bloco advertiu Caracas sobre o uso da força e a "sua posição pode evoluir", disse um diplomata.

O agravamento da crise na Venezuela pode chegar à mesa da reunião informal de chanceleres europeus na semana que vem em Bucareste, em um contexto de pressão feita pela centro direita do bloco para que a UE reconheça Juan Guaidó como presidente.

O chefe das fileiras do PPE (direita) na Eurocâmara, Manfred Weber, assegurou que seu grupo "reconhece" o opositor como "presidente interino". "Na semana que vem pediremos na Eurocâmara que a UE o reconheça oficialmente", acrescentou.

tjc/pb/cb