Macri enfrenta nova greve em meio a campanha eleitoral na Argentina
Buenos Aires, 29 Mai 2019 (AFP) - Uma greve geral, com paralisação completa dos transportes públicos, desafia nesta quarta-feira (29) o presidente argentino, Mauricio Macri, em meio a campanha eleitoral para sua reeleição e sob pressão pela crise econômica com uma inflação de 55% e aumento da pobreza.
Convocada pelas principais centrais sindicais para protestar contra as medidas de ajuste econômico de viés liberal, a greve paralisou o metrô de Buenos Aires, os trens, o serviço de ônibus, o transporte de carga, as escolas e universidades, além do setor bancário. Os hospitais só atendem emergências e portos e aeroportos não operam.
Segundo os dirigentes sindicais, a adesão à greve de 24 horas foi quase total. "O movimento operário reitera o chamado a que se tomem ações imediatas para frear esta decadência política, social e econômica", disse em coletiva de imprensa Héctor Daer, da Confederação Geral do Trabalho.
O governo atribuiu a paralisação à falta de transporte público. "O povo é refém da existência ou não do transporte. Vimos isso na paralisação anterior, durante a qual houve transporte e as pessoas foram em massa trabalhar", queixou-se o ministro dos Transportes, Guillermo Dietrich.
As ruas de Buenos Aires estavam semi-desertas, com poucas lojas abertas. Em vários pontos da capital, foram organizados mutirões para distribuição de comida nas ruas, as chamadas 'ollas populares', para chamar a atenção para a pobreza, que atinge 32% da população.
"Não queremos mais ajuste. Não queremos mais demissões, queremos que sejam proibidas. Não queremos que as pessoas morram de fome. Queremos que a situação mude na raiz", disse à AFP Gustavo Michel, operário em uma refinaria.
"Muitas fábricas estão fechando. São várias famílias que estão ficando nas ruas. É terrível porque tampouco há trabalho", acrescentou.
O índice de desemprego fechou 2018 em 9,1%. Segundo os sindicatos, nos últimos três anos foram perdidos mais de 290.000 postos de trabalho neste país de 44 milhões de habitantes.
Entre os poucos que foram trabalhar nesta quarta-feira estava Andrés Simoni, jovem de 20 anos que trabalha por conta própria vendendo sanduíches desde que perdeu o emprego em uma farmácia.
No entanto, não conseguiu clientes desta vez. "Não há ninguém, é um deserto", lamenta-se, antes de seguir de bicicleta para a área de Puerto Madero, em busca de turistas.
- "Não vamos facilitar" -Embora os sindicatos não tenham feito mobilizações, grupos de esquerda organizaram bloqueios de rodovias nos acessos à capital. No acesso sul, manifestantes foram reprimidos pela Polícia com bombas de gás e balas de borracha.
"Estamos sofrendo com os tarifaços (aumentos das tarifas de serviços públicos) por culpa de Macri e do Fundo Monetário Internacional. Não vamos facilitar para Macri, nem para o governo que entrar se continuarem com o Fundo Monetário", disse Cristian Durán, um desempregado que se manifestou na entrada sul da cidade.
Os sindicatos pedem aumentos salariais, em linha com o índice da inflação e protestam contra o aumento do desemprego.
"Como o governo acredita que pode desviar o pensamento da realidade que está ocorrendo? Estas paralisações não são feitas por capricho dos dirigentes. Espero que esta mensagem que toda a sociedade dá faça o presidente refletir e o faça também mudar muitas coisas", declarou Hugo Moyano, dirigente do poderoso sindicato de caminhoneiros.
Trata-se da quinta greve geral que Macri enfrenta desde que assumiu a Presidência em dezembro de 2015, com a coalizão de centro-direita Cambiemos (Mudemos).
A paralisação mais recente ocorreu em 30 de abril.
A Argentina entrou em recessão em 2018, após duas corridas cambiárias que desataram a inflação e levaram o governo de Macri a pactuar um auxílio de 56 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional.
Em troca, a Argentina se comprometeu a conseguir o equilíbrio fiscal em 2019 e superávit em 2020 com um duro plano de ajustes.
Sergio Palazzo, dirigente do sindicato de bancários, assegurou que a greve "é um chamado de atenção para que, venha o governo que vier, não sejamos o último vagão do FMI".
Macri tem despencado nas pesquisas para as eleições de outubro, enquanto melhora a imagem da ex-presidente Cristina Kirchner, submetida a uma dezena de ações judiciais por corrupção e que finalmente decidiu não disputar a Presidência, mas ser a vice na chapa de seu ex-chefe de gabinete Alberto Fernández, pelo peronismo de esquerda.
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