Vetadas na Copinha, bets podem e devem ser banidas do futebol brasileiro
O Ministério da Fazenda proibiu a presença de bets nas partidas da Copa São Paulo de Futebol Júnior, seja em uniformes, propagandas em estádios e em canais que transmitam os jogos. Clubes que participam do campeonato estão cobrindo o nome das casas de apostas que os patrocinam com fita adesiva. É o mínimo, mas não o bastante. Anúncios de bets podem e devem ser banidos do futebol, das TVs, das rádios, de portais de internet.
A justificativa adotada pela Secretaria de Prêmios e Apostas é que a legislação veta como objeto de apostas os eventos esportivos de categorias de base. E cita a portaria SPA/MF nº 1231, de 31/07/2024, que trata de regras para o "jogo responsável" e para ações de comunicação, de publicidade e propaganda e de marketing.
Nela, a norma aponta que "para fins de implementação do jogo responsável, o agente operador de apostas deverá abster-se de patrocinar crianças ou adolescentes; buscar influenciar ou incentivar crianças ou adolescentes a apostarem; patrocinar eventos dirigidos majoritariamente a crianças ou adolescentes; e patrocinar equipes juvenis ou infantis". Não é o único trecho que trata dos cuidados para evitar o vício dessa faixa etária.
Considerando que parte significativa do público dos campeonatos estaduais e nacionais é de crianças e adolescentes, sozinhos ou acompanhados dos responsáveis, a mesma leitura poderia e deveria ser feita para o resto dos torneios.
A maioria da série A do Campeonato Brasileiro ostenta uma variedade de nomes de casas de aposta no peito de dos jogadores, vistos como exemplos e heróis por muita gente, influenciando as novas gerações.
"Ah, mas isso ajuda a manter o futebol de pé!', contestam alguns. Bem, se o principal esporte nacional, para não dizer mundial, se tornou algo que só vai funcionar se ajudar a promover a pilhagem de trabalhadores, então o futebol se tornou inviável e precisa ser repensado. O mesmo vale para o jornalismo e veículos de comunicação que se financiam com recursos dessas empresas.
Indo direto ao ponto: é uma brincadeira de mau gosto que publicidades multicoloridas, trazendo sorridentes influenciadores, prometendo mundos e fundos, sejam encerrados com o alerta "jogue com responsabilidade". Qualquer tigrinho com problemas de cognição sabe que as casas de apostas lucram exatamente com o comportamento compulsivo promovido por elas mesmas. Isso soa como um traficante na "cracolândia" vender uma pedra e alertar: fume com moderação.
E a promoção desse comportamento começa na infância e na adolescência, tal como o uso irresponsável de álcool e tabaco, drogas legalizadas que fazem a riqueza de muitos.
O Congresso Nacional não deveria ter aprovado o funcionamento desse tipo de empresa sem a previsão de cobrança de impostos do tamanho do buraco na saúde pública e nas famílias que ela vem trazendo. E sem a proibição de anúncios e patrocínios que bombem o nome das bets. Ações tomadas agora não vão corrigir o estrago causado, mas podem mitigá-lo.
Se os legisladores e o governo tiverem a coragem de adotá-las. E há projetos apresentados para proibir a propaganda desses caça-níqueis digitais na TV, no rádio, nas redes sociais, nos portais e sites.
"O que se tem, ao menos por enquanto, é um estímulo constante para tomada irracional de decisão, para compulsão, pelas quase onipresentes propagandas, pela liberdade e facilidade de acesso às plataformas. A situação no momento é insustentável", afirmou a ministra Macaé Evaristo, chefe da pasta de Direitos Humanos e Cidadania, na audiência pública convocada pelo Supremo Tribunal Federal, em novembro, para tratar das casas de apostas online.
Como exaustivamente alertado, essas plataformas estão construindo um caos social, principalmente entre os trabalhadores pobres - que perdem o dinheiro da própria sobrevivência acreditando que podem ficar ricos facilmente.
"Já foi feito isso com o cigarro e outros produtos. Por que não aplicar por um princípio de precaução nesse ambiente?", questionou Luiz Augusto Santos Lima, subprocurador-geral da República, lembrando que já há mecanismos para limitar as propagandas.
Como já disse aqui mais de uma vez, não faz sentido anúncios de bets serem liberados e os do crack não, considerando que ambos causam mal à saúde de indivíduos e destroem famílias. O pior é que a jogatina está acessível a um celular de distância, com a benção do Estado brasileiro, enquanto comprar pedra oferece o risco de ser preso, assaltado ou morto de quem for até a boca.