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Terras raras são arma da China na guerra comercial com os EUA

29/05/2019 13h15

Pequim, 29 Mai 2019 (AFP) - As chamadas terras raras, um conjunto de elementos químicos escassos e que são usados em produtos tecnológicos como smartphones e mísseis, são abastecidas em 95% pela China, que pode encontrar nelas uma arma para sua guerra comercial com os Estados Unidos.

- O que são as terras raras?As terras raras são um conjunto de 17 elementos químicos essenciais para fabricar desde smartphones até câmeras, televisores de alta definição e computadores.

A China domina o fornecimento das terras raras, da qual os Estados Unidos, entre outros, são dependentes. Até agora, não foram submetidos aos aumentos de tarifas decretados pelo governo de Donald Trump aos produtos chineses.

Mas a mídia chinesa agora sugere que as exportações de terras raras podem servir como arma de represália contra os Estados Unidos por suas medidas comerciais contra o gigante asiático.

- Por que a China ameaça restringir as exportações?As terras raras são para Pequim uma importante arma de influência política e econômica em sua disputa com os Estados Unidos.

Neste mês, os EUA ameaçaram deixar de fornecer tecnologia americana à gigante chinesa de telecomunicações Huawei, argumentando preocupações de segurança.

Até agora, Pequim só fez advertências para sugerir que as terras raras podem ser sua próxima arma de represália. "Como medida comercial de represália, é uma obviedade", afirma Jeffrey Halley, analista da OANDA.

Se a China concretizar suas ameaças, o impacto para companhias dos Estados Unidos pode ser desastroso.

"A China pode forçar a parada de quase todas linhas de montagem de automóveis, computadores, smartphones e aeronaves fora da China se decidir embargar esses materiais", escreveu na semana passada James Kennedy, presidente da ThREE Consulting, na revista National Defense.

- Isso já aconteceu antes?A China foi acusada de usar sua influência com as terras raras por razões políticas e econômicas.

Em 2014, a Organização Mundial do Comércio (OMC) decidiu que o país tinha violado as normas comerciais mundiais ao restringir as exportações de metais alegando danos ambientais.

Os Estados Unidos, a União Europeia e o Japão apelaram à OMC, acusando Pequim de, na realidade, frear as exportações para dar a suas empresas tecnológicas vantagens sobre seus rivais.

O painel da OMC acabou decidindo que as cotas eram "elaboradas para alcançar objetivos de política industrial".

Não é a primeira vez que a China é acusada de usar as terras raras como arma política. Fontes da indústria japonesa explicaram que, em 2010, a China interrompeu temporariamente as exportações por uma disputa territorial - algo que Pequim nega.

- Quais as possibilidades de Pequim cumprir a ameaça?Os analistas garantem que, por ora, não é provável que Pequim cumpra suas ameaças, possivelmente porque qualquer restrição às exportações poderia provocar uma busca por fontes alternativas de terras raras em outros países.

Apesar de dominar a oferta, a China não é o único país com reservas consideráveis dos metais.

O Serviço Geológico dos Estados Unidos estima que, no ano passado, havia 120 milhões de toneladas disponíveis no mundo, incluindo 44 milhões na China e 22 milhões no Brasil e no Vietnã.

- Por que outros países não produzem terras raras?Durante grande parte do século XX, os Estados Unidos dominaram a produção de terras raras.

Mas sua produção cria grandes quantidades de rejeitos tóxicos e, em 2003, a última mina americana, Mountain Pass, na Califórnia, deixou de produzir após uma catástrofe ambiental anos antes.

A China ocupou este espaço, graças também a sua legislação ambiental permissiva, e aumentou sua produção, tornando-se líder mundial.

As terras raras "são abundantes no mundo todo", segundo Halley, mas muitos países não as produzem pelos custos financeiros e ambientais que representam.

"Da mesma forma que todo mundo quer um aeroporto perto, mas não do lado de casa, (...) o mundo colhe o que plantou por ter dado à China as chaves para esta questão", acrescentou.

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