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Confrontos deixam mais mortos no Iraque e governo bloqueia Internet

05/11/2019 17h30

Bagdá, 5 Nov 2019 (AFP) - Mais mortos e confrontos foram registrados em Bagdá e no principal porto do país, nesta terça-feira (5), somando-se a um longo bloqueio de Internet, que geram o temor de que o Iraque, cenário de um movimento que exige "a queda do regime", mergulhe no caos.

Desde o início do movimento popular que reivindica a "queda do regime", lançado em 1º de outubro, mais de 270 pessoas morreram - manifestantes em sua maioria, de acordo com balanço feito pela AFP.

As autoridades propuseram reformas sociais e eleições antecipadas. Uma comissão encarregada de redigir várias emendas à Constituição começou a se reunir nesta terça. Mas não basta acalmar as ruas, onde as pessoas pedem a renúncia de todos os líderes políticos.

Nesta terça, o primeiro-ministro, Adel Abdel Mahdi, considerou que a proposta do presidente Barham Saleh de realizar eleições antecipadas é inviável.

Em Bagdá, capital isolada do mundo por estar privada de acesso à Internet, assim como no sul do país, os manifestantes seguem com os protestos, apesar da morte de pelo menos dez pessoas desde a noite de domingo, segundo fontes médicas, e uma campanha de detenção em andamento, disse um ativista à AFP.

Por determinação das autoridades, a Internet foi cortada entre a meia-noite de segunda e as nove da manhã desta terça. Mas três horas depois, o acesso à rede foi novamente bloqueado.

"Já nos deixaram sem internet antes e isso não ajudou. Como vai acontecer agora", disse Ammar, 41 anos, presente na Praça Tahrir, em Bagdá.

Entre os dias 3 e 17 de outubro, os iraquianos não tiveram acesso à internet, enquanto o bloqueio às redes sociais segue desde 2 de outubro, apesar de os usuários obterem acesso através de aplicativos de VPN.

"Os líderes não nos amedrontam, são eles que tem medo de nós, porque somos pacíficos", disse um manifestante à AFP. "Os tiranos passam, mas os povos permanecem", acrescentou um senhor idoso.

- Protestos não diminuem apesar dos mortos -Em Nassiriya, no sul do país, dois manifestantes morreram na segunda em confrontos com a polícia, segundo fontes médicas.

Na província petroleira de Basra, os manifestantes bloqueiam há vários dias a estrada que leva ao porto de Umm Qasr, vital para as importações. A maioria dos navios deixou o local sem poder descarregar sua carga, relata uma fonte portuária.

Nesta terças, forças de segurança atiraram na multidão, matando dois manifestantes..

Em outras partes do sul, em Nassiriya e Diwaniya, os piquetes paralisam os prédios públicos.

Na segunda-feira, dois manifestantes foram mortos a tiros em Bagdá em confrontos com a polícia. A violência continuou durante a noite, especialmente em torno das pontes que levavam à embaixada iraniana, à sede do governo e aos Ministérios das Relações Exteriores e da Justiça.

O sul xiita do Iraque está especialmente afetados por esse movimento de protesto: quatro manifestantes morreram na noite de domingo na cidade sagrada de Kerbala, 100 km ao sul de Bagdá, durante uma tentativa para incendiar o consulado do Irã, que controla o governo iraquiano, segundo manifestantes.

- Sem o jugo iraniano -A polícia começou a atirar nos manifestantes no Iraque novamente e despertou os medos e as lembranças tristes de um mês atrás.

De 1º a 6 de outubro, segundo o boletim oficial das autoridades, 157 pessoas foram assassinadas. Depois de 18 dias de relativa calma para a maior peregrinação xiita do mundo, o protesto foi retomado em 24 de outubro.

Após 18 dias de calma, devido à grande peregrinação xiita, os protestos foram retomados em 24 de outubro.

Desta vez, as manifestações parecem um gigantesco movimento de desobediência civil pacífica apesar do registro de alguns episódios violentos durante os ataques contra as sedes de partidos e milícias.

O general Qasem Soleimani, comandante das forças de operações exteriores do Exército ideológico iraniano, multiplicou as visitas ao Iraque.

Já os comentários do líder supremo iraniano, Ali Khamenei, que denuncia uma "conspiração" americana e israelense, exacerbaram a ira dos iraquianos.

"São os iranianos que dirigem o país. Preferimos morrer a permanecer sob seu jugo", declarou nesta terça uma manifestante na praça Tahrir, onde uma forca e um simbólico "tribunal do povo" foram instalados na segunda à noite.

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