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Morreu Larry Kramer, ativista gay e pioneiro da luta contra a aids

27/05/2020 17h45

Nova York, 27 Mai 2020 (AFP) - Larry Kramer, ativista americano pelos direitos dos homossexuais, cujas ações e escritos ousados denunciaram a apatia do governo de seu país frente à crise da aids nos anos 80, morreu nesta quarta-feira, aos 84 anos.

"Descanse em paz, nosso lutador Larry Kramer. Sua ferocidade ajudou a inspirar um movimento. Seguiremos honrando o seu nome e espírito com ações", tuitou a Aids Coalition to Unleash Power (ACT UP), uma das organizações fundadas por Kramer quando o vírus HIV fazia estragos entre a comunidade gay, no fim do século XX.

Segundo o jornal "New York Times", que cita o marido de Kramer, David Webster, o ativista morreu de pneumonia. Ele sofria de várias doenças, era HIV positivo e se submeteu a um transplante de fígado em 2001.

Em 1981, Kramer fundou a Gay Men's Health Crisis, primeira organização de apoio a portadores do vírus HIV, mas a abandonou um ano depois, devido a conflitos com os demais organizadores.

Em 1987, fundou a Act Up, com a qual liderou manifestações e grandes ações, como invasões surpresa a repartições públicas, à Bolsa de Nova York e até à igreja de St. Patrick durante uma missa, para tentar convencer líderes americanos a combaterem a aids.

A escritora Susan Sontag o classificou como "um dos perturbadores mais úteis dos Estados Unidos". "Milhões de pessoas estão vivas graças a Larry Kramer, incluindo eu", tuitou após a sua morte Corey Johnson, presidente do Conselho Municipal de Nova York, que é homossexual. "Ele não era a pessoa mais fácil e graças a Deus por isso. Era um heroi e se tornou meu amigo."

Nascido em 25 de junho de 1935, em Bridgeport, Connecticut, Kramer formou-se na Universidade de Yale, em 1957, e alistou-se no Exército. Fez uma incursão pelo cinema e trabalhou, em Londres, nos roteiros de "Dr. Fantástico" e "Lawrence da Arábia". Era conhecido como um roteirista provocador e, em 1971, foi indicado ao Oscar por sua adaptação do romance de D.H. Lawrence "Mulheres Apaixonadas".

Em seguida, Kramer começou a escrever sobre a homossexualidade e, em 1978, publicou seu primeiro romance, "Faggots". No começo dos anos 1980, foi um dos primeiros ativistas a reconhecer que a aids era uma doença letal que poderia se propagar e matar milhões de pessoas no mundo, não importando seu gênero.

Embora a retórica dura e o estilo combativo de Kramer afastassem alguns, ele canalizou sua fúria com a resposta quase inexistente do governo americano à crise da aids em um ativismo urgente, que transformou o sistema de saúde pública dos Estados Unidos.

"Na medicina americana, há duas eras: antes de Larry e depois de Larry", disse Anthony Fauci, especialista em doenças infecciosas e líder da luta do governo contra a pandemia do novo coronavírus, à revista "The New Yorker", em 2002.

Entre os escritos de Kramer mais conhecidos está "The Normal Heart", peça teatral de 1985 que condenava a falta de ação de dirigentes frente à aids e que recebeu três prêmios Tony em 2011, antes de ser adaptada para o cinema.

mdo-cat-lbc/gfe/lb