Milhares de iraquianos vão às ruas pelo primeiro aniversário da revolução
Bagdá, 25 Out 2020 (AFP) - Milhares de iraquianos se manifestaram neste domingo (25) em Bagdá pelo primeiro aniversário da "revolução de outubro", desafiando um governo incapaz de se reformar e de oferecer os serviços básicos, assim como a crescente influência das facções armadas iraquianas pró-Irã.
Os protestos de 2019 foram duramente reprimidos, com cerca de 600 manifestantes mortos, 30.000 feridos e centenas de detidos. A repressão foi acompanhada de uma campanha de assassinatos e sequestros de figuras da revolta, liderada por "milícias", segundo a ONU.
Neste domingo, foram registrados incidentes em Bagdá entre as forças de ordem e os jovens manifestantes que queriam chegar da emblemática Praça Tahrir à Zona Verde, um bairro altamente protegido onde estão as sedes do Parlamento e do governo iraquiano, assim como a embaixada dos Estados Unidos.
Os jovens avançaram e colidiram com a polícia nas pontes Al-Jumhuriya, que une Tahrir com a Zona Verde, e Senek, que conduz diretamente à embaixada do Irã.
Cerca de cinquenta policiais e manifestantes ficaram levemente feridos nas trocas de pedradas e gás lacrimogêneo, disseram fontes policiais e médicas à AFP.
Também houve manifestações, até o momento sem incidentes, nas cidades de Nayaf, Hilla, Basora, Kut, Diwaniya, Nasiriya e Amara, afirmaram correspondentes da AFP no sul do país.
Alí Ghazi, que protesta em Nasiriya, bastião de todas as revoltas no Iraque, disse à AFP que participa "para repetir que queremos alcançar nosso objetivo: construir um novo Iraque".
Em outubro de 2019, os manifestantes exigiam uma renovação total do sistema político, o fim da corrupção endêmica e mais empregos e serviços para todos.
Neste ano, o primeiro-ministro Mustafá Al-Kazimi, designado em abril para tentar tirar o país da paralisação, insistiu que ordenou as forças de segurança a não recorrerem às armas ou à força letal.
No entanto, em um país mergulhado em conflitos há décadas e onde os grupos armados continuam exercendo sua influência, as armas são onipresentes, como reconhece Kazimi - também chefe de inteligência externa -, que não conseguiu conter os disparos de foguetes, assassinatos e ameaças de facções armadas.
A revolta popular foi intensificada pelas tensões entre Irã e Estados Unidos, países inimigos e principais potências mais presentes no Iraque, além da pandemia de covid-19.
O porta-voz militar de Kazimi pediu aos manifestantes que permaneçam na praza Tharir, o único local "totalmente seguro".
Os manifestantes, que há um ano pedem empregos para os jovens (60% da população), estimam que nada mudou. Alegam inclusive que suas condições pioraram.
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