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Bloqueio dos militares ao Facebook não impede apelos de resistência em Mianmar

4.fev.2021 -  Funcionárias do governo usando fitas vermelhas durante um protesto contra o golpe que derrubou a líder eleita Aung San Suu Kyi em Naypyitaw, Mianmar - Reuters/Stringer
4.fev.2021 - Funcionárias do governo usando fitas vermelhas durante um protesto contra o golpe que derrubou a líder eleita Aung San Suu Kyi em Naypyitaw, Mianmar Imagem: Reuters/Stringer

Em Yangon

04/02/2021 07h58

Os generais birmaneses ordenaram hoje o bloqueio do acesso ao Facebook, uma ferramenta essencial de comunicação em Minamar, três dias depois de um golpe de Estado que derrubou o governo civil de Aung San Suu Kyi, enquanto os apelos para resistir continuam.

O Exército pôs fim à frágil transição democrática do país na segunda-feira, impondo o estado de emergência por um ano e prendendo Aung San Suu Kyi e outros líderes de seu partido, a LND (Liga Nacional para a Democracia).

A dirigente, de 75 anos, que se acredita estar em prisão domiciliar na capital Naipyidaw, segundo seu movimento, foi acusada de ter violado uma norma comercial.

Hoje, centenas de apoiadores do Exército se reuniram na capital.

"Não queremos mais traidores nacionais vendidos a países estrangeiros" e "Tatmadaw [as Forças Armadas] amam o povo", podiam-se ler nas faixas e cartazes.

Não muito longe dali, 70 deputados do LND assinaram um "compromisso para servir ao povo" e organizaram uma sessão parlamentar simbólica para denunciar a tomada do Parlamento.

Nas ruas, multiplicam-se os sinais de resistência ao golpe de Estado, condenado pela ONU e por muitos governos ocidentais.

Em Mandalay (centro), houve uma pequena manifestação com cartazes que diziam "Protesto do povo contra o golpe de Estado militar!". De acordo com a imprensa local, quatro pessoas foram detidas. A AFP não conseguiu confirmar essa informação com as autoridades.

O medo de represálias persiste neste país que viveu sob uma ditadura militar por quase 50 anos desde sua independência, em 1948.

Ontem à noite, no bairro comercial de Yangon, a capital econômica, os moradores tocaram suas buzinas e faziam panelaços pela segunda noite consecutiva. Alguns gritavam: "Viva Mãe Suu!" (Aung San Suu Kyi).

Advogados protestaram com fitas vermelhas, nas cores da LND e fizeram a saudação de três dedos, um gesto de resistência adotado por ativistas pró-democracia em Hong Kong, ou na Tailândia.

Profissionais de saúde também se somaram ao protesto. Dezenas de estabelecimentos no país se negaram a trabalhar "sob uma autoridade militar ilegítima".

No Facebook, rede social muito popular no país, foram criados grupos que convocam a "desobediência civil".

A empresa norte-americana informou que alguns de seus serviços foram "perturbados" e pediu às autoridades que "restabeleçam a conexão", disse uma porta-voz da plataforma à AFP.

A norueguesa Telnor, um dos principais provedores de telecomunicações do país, confirmou que as autoridades deram ordem para "bloquear temporariamente" o Facebook.

"Não acreditamos que esta medida (...) esteja em conformidade com o direito internacional", acrescentou.

Negociações na ONU

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que faria todo possível para garantir que a comunidade internacional "exerça pressão suficiente" sobre Mianmar para garantir o "fracasso" do golpe.

Em uma entrevista ao jornal The Washington Post, ele considerou "absolutamente inaceitável mudar os resultados das eleições e a vontade do povo". Guterres também lamentou que o Conselho de Segurança não tenha conseguido chegar a um acordo, na terça-feira, a respeito de uma resolução sobre Mianmar.

Para ser adotada, a resolução precisa do apoio da China, que tem direito de veto nesta instância das Nações Unidas, mas Pequim continua sendo o principal apoiador de Mianmar na ONU.

Durante a crise dos rohingyas, a China obstruiu todas as iniciativas, por considerar que o conflito é um assunto interno de Mianmar. Já Estados Unidos e União Europeia (UE) planejam impor novas sanções ao país, enquanto o Reino Unido condenou, hoje, "a prisão e a acusação" de Aung San Suu Kyi.