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Protestos contra golpe de Estado continuam em Mianmar

11/02/2021 15h02

Os birmaneses protestavam nesta quinta-feira (11) pelo sexto dia consecutivo contra o golpe militar que derrubou Aung San Suu Kyi, em um contexto de repressão e crescente pressão internacional contra a junta.

O novo homem forte do país, o General Min Aung Hlaing, emitiu um novo alerta aos manifestantes, desta vez aos trabalhadores a quem prometeu "ação efetiva" por "não cumprirem suas obrigações (...) incitados por pessoas sem escrúpulos".

O medo de represálias é palpável, dois dias após o uso da força policial que deixou vários feridos, dois deles em estado grave. Uma jovem levou um tiro na cabeça e sua situação é crítica.

Mais de 200 pessoas - membros da Liga Nacional para a Democracia (LND), partido de Aung San Suu Kyi, e ativistas - foram presos desde o golpe de 1º de fevereiro, segundo uma ONG humanitária.

O presidente da Comissão Eleitoral e dois de seus membros foram presos nesta quinta-feira.

Os manifestantes continuam a tomar as ruas para exigir a libertação dos detidos, o fim da ditadura e a abolição da Constituição de 2008, que é muito favorável ao Exército.

"Não vá para o escritório!", gritava um grupo de manifestantes em frente ao Banco Central de Mianmar em Yangon, a capital econômica, respondendo aos apelos por "desobediência civil".

"Protestaremos até que Aung San Suu Kyi e Win Myint sejam libertados", declarou à AFP um funcionário do banco.

Membros das etnias rakhine e kachin, em roupas tradicionais, aderiram aos protestos. "Nossos grupos étnicos devem se unir para lutar contra a ditadura militar", observou Saw Z Net, um karen, enquanto algumas minorias estão há décadas em conflito com os militares.

Protestos também ocorreram em outras cidades do país, como na antiga cidade de Bagan, patrimônio da UNESCO.

"Libertação imediata"

A escalada de violência contra os manifestantes foi condenada internacionalmente.

O presidente americano, Joe Biden, anunciou na quarta que seu governo reduziria o acesso dos generais birmaneses a 1 bilhão de dólares em fundos nos Estados Unidos e que revelaria novas sanções ainda esta semana.

"Mais uma vez, peço aos militares que libertem imediatamente todos os líderes políticos eleitos democraticamente e ativistas", acrescentou Biden.

O Reino Unido e a União Europeia também ameaçaram com sanções.

Os europeus também apresentaram ao Conselho de Segurança da ONU, que se reúne na sexta-feira, um projeto de resolução condenando o golpe militar e pedindo a libertação de Aung San Suu Kyi e o retorno do governo civil.

O país, que viveu quase 50 anos sob o jugo dos militares desde sua independência em 1948, testemunhou uma onda de protestos sem precedentes desde a Revolução Açafrão de 2007 liderada por monges.

O relator especial da ONU para Mianmar, Tom Andrews, condenou o uso da força. "Eles não podem roubar a esperança e a determinação de um povo", escreveu.

Uma coalizão de grandes grupos da Internet na Ásia, como Facebook, Google e Twitter, também denunciou um projeto de lei que permite aos militares banir sites e forçar as redes sociais a entregar dados de usuários.

O Exército contesta a regularidade das eleições legislativas de novembro, vencidas de forma esmagadora pela NLD, embora os observadores internacionais não tenham constatado nenhum problema importante.

Na realidade, os generais temiam que sua influência diminuísse após a vitória de Aung San Suu Kyi, que poderia querer mudar a Constituição favorável aos militares.

Muito criticada pela comunidade internacional por sua passividade durante os crimes contra os rohingyas, a Nobel da Paz, em prisão domiciliar há 15 anos por sua oposição à junta, continua adorada em seu país.

A ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, que segundo seu partido está bem e em prisão domiciliar em Naipyidó, continua sendo reverenciada em seu país, apesar das recentes críticas internacionais por sua passividade diante dos abusos contra a minoria muçulmana Rohingya.