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Reino Unido recomenda a britânicos que abandonem Mianmar

Manifestantes deitam no chão após a polícia atirar contra eles durante mais um protesto contra os militares em Mandalay, em Mianmar - Reuters
Manifestantes deitam no chão após a polícia atirar contra eles durante mais um protesto contra os militares em Mandalay, em Mianmar Imagem: Reuters

12/03/2021 10h18

Yangon, 12 Mar 2021 (AFP) - O Reino Unido aconselhou nesta sexta-feira (11) a seus cidadãos que deixem Mianmar, onde a repressão da junta militar é cada vez mais severa, especialmente contra a imprensa, e a Rússia expressou preocupação com o "número crescente" de vítimas civis.

Desde o golpe de Estado de 1º de fevereiro, a junta militar que assumiu o poder enfrenta um movimento de protestos sem precedentes, que tenta conter de maneira cada vez mais violenta, recorrendo inclusive à munição letal. Ao menos 70 manifestantes morreram, nove deles na quinta-feira.

"Crescem as evidências de que a junta militar pode estar cometendo crimes contra a humanidade, incluindo assassinatos, desaparecimentos forçados, perseguição, tortura e prisões (...) uma violação à lei internacional", declarou na quinta-feira Thomas Andrews, principal especialista da ONU sobre Mianmar, no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.

A junta militar também aumentou a repressão contra a imprensa e cinco jornalistas foram indiciados na quinta-feira, incluindo um fotógrafo da agência Associated Press. Eles foram detidos no mês passado quando cobriam um protesto em Yangon.

Acusados de "provocar temor, propagar notícias falsas ou questionar direta ou indiretamente um funcionário do governo", eles podem ser condenados a penas de dois a três anos de prisão, segundo a nova lei aprovada pela junta.

Esta semana, os militares ordenaram operações contra vários meios de comunicação e revogaram as licenças de alguns.

Entre os detidos está um jornalista polonês, informou o ministério das Relações Exteriores do país europeu. Os diplomatas tentam estabelecer contato com o repórter.

Diante de uma situação "cada vez mais violenta", o ministério britânico das Relações Exteriores recomendou aos britânicos que "abandonem o país por meios comerciais, exceto em caso de necessidade urgente de permanecer".

Moscou, até agora discreto, expressou preocupação com o crescente número de vítimas civis. O porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, chamou a situação de "alarmante".

E enquanto as manifestações prosseguem, a junta ofereceu uma entrevista coletiva na quinta-feira, algo incomum, para apresentar acusações de corrupção contra a ex-chefe do governo civil Aung San Suu Kyi, cujo partido venceu as eleições de novembro.

De acordo com um porta-voz dos militares, o ex-ministro responsável pela região de Yangon, Phyo Min Thein, detido após o golpe, confessou que entregou a Suu Kyi 600.000 dólares e um quilo de ouro, avaliado em 680.000 dólares.

Nesta sexta-feira, Khin Maung Zaw, advogado da vencedora do Nobel da Paz, rebateu as acusações, que chamou de "infundadas". "Esta história dólares e lingotes de ouro, é a mais divertida de todas as palhaçadas inventadas até agora", declarou à AFP.

A junta também acusa Suu Kyi de possuir "walkie-talkies" sem licença e de ter violados as restrições impostas pelo coronavírus durante a campanha eleitoral.

Suu Kyi, que não é vista em público desde que foi detida em 1º de fevereiro, deve comparecer a um tribunal na segunda-feira, informou o advogado, que denunciou não ter se reunido com ela de maneira privada desde sua detenção.