Moradores de Yangon fogem após 'banho de sangue" em Mianmar
![A família do manifestante Chit Min Thu, que foi morto por tiro disparado por forças de segurança de Mianmar; mais de 180 civis morreram desde o golpe de Estado de 1º de fevereiro - STR/AFP](https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/ea/2021/03/11/a-familia-do-manifestante-chit-min-thu-que-foi-morto-por-tiro-disparado-por-forcas-de-seguranca-de-mianmar-1615491582711_v2_450x450.jpg)
Vários habitantes da cidade birmanesa de Yangon fugiram hoje de um distrito que se tornou cenário de confrontos nos últimos dias, enquanto as famílias dos manifestantes do movimento pró-democracia se preparavam para enterrar seus mortos após o "banho de sangue" das forças de segurança.
Mais de 180 civis morreram desde o golpe de Estado de 1º de fevereiro contra Aung San Suu Kyi, segundo a AAPP (Associação de Ajuda aos Presos Políticos). O balanço aumentou consideravelmente nos últimos três dias.
A junta parece mais decidida do que nunca a reprimir os protestos, apesar das condenações internacionais.
"Em Mianmar, os militares tentam anular os resultados de eleições democráticas e reprimem brutalmente os manifestantes pacíficos", afirmou nesta terça-feira o secretário de Estado americano, Antony Blinken, em Tóquio.
Em Hlaing Tharyar, um subúrbio industrial de Yangon, a capital econômica do país, onde vivem trabalhadores pobres que são empregados de fábricas têxteis, muitas pessoas abandonaram a área às pressas nesta terça-feira.
Alguns colocaram seus pertences e animais de estimação em caminhões, tuk-tuks, ou veículos pequenos. "Era possível observar pessoas nas estradas até onde a vista alcança, em fuga para retornar a suas regiões de origem", afirmou um meio de comunicação local.
No domingo, a junta militar declarou lei marcial nesta área do subúrbio depois que grupos incendiaram várias fábricas chinesas. As forças de segurança abriram fogo e mataram dezenas de manifestantes.
Todas as pessoas detidas no distrito e nos outros cinco distritos de Yangon que estão sob lei marcial correm o risco de serem processadas em um tribunal militar, o que pode resultar em pena mínima de três anos de trabalhos forçados.
"Mártires"
Mianmar também se preparava nesta terça-feira para sepultar os mortos.
Ao menos 20 manifestantes morreram na segunda-feira, segundo a AAPP. O domingo foi o dia mais violento da repressão, com 74 civis mortos por tiros. A junta militar anunciou o óbito de um policial.
"Muitos adolescentes foram assassinados, e o uso de munição real está se intensificando, inclusive durante a noite", afirmou a AAPP.
O Exército não respondeu aos pedidos de informação da AFP.
Os funerais de vários manifestantes estavam programados para esta terça-feira em todo país, inclusive em Yangon.
Durante a noite, foram organizadas vigílias em várias cidades.
"R.I.P." (Descanse em Paz), escreveram com velas os moradores de Mandalay, a segunda maior cidade do país. "Apoiamos nossos mártires", "Lutaremos até o fim", afirmaram algumas mensagens nas redes sociais.
Pequenos grupos dispersos de manifestantes se concentraram nesta terça-feira em Yangon, mas em número reduzido pelo temor de represálias.
Desde domingo a junta militar bloqueia as conexões de Internet móvel, o que dificulta a coordenação dos manifestantes.
A violência dos últimos dias provocou uma nova onda de protestos internacionais.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, por meio de seu porta-voz Stephane Dujarric, denunciou um "banho de sangue". Também pediu à comunidade internacional, "incluindo os atores regionais, que se unam em solidariedade com o povo birmanês e suas aspirações democráticas".
Após a violência de domingo, quando foram atacadas 30 fábricas chinesas, segundo a imprensa estatal, Pequim afirmou que estava "muita preocupada" com a segurança de seus cidadãos em Mianmar.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, pediu às autoridades a adoção de medidas para "evitar resolutamente a repetição dos incidentes".
O ressentimento contra a China aumentou nas últimas semanas em Mianmar, porque muitas pessoas consideram que sua postura contra os generais birmaneses não é suficientemente forte.
2.200 detenções
O Exército também responde aos protestos na frente judicial.
De acordo com a AAPP, desde 1º de fevereiro quase 2.200 pessoas foram detidas, incluindo Aung San Suu Kyi, de 75 anos, que permanece incomunicável, assim como políticos, autoridades locais, ativistas, artistas e funcionários públicos em greve.
A ex-chefe de fato do governo civil deveria ter participado de uma audiência por videoconferência na segunda-feira, mas a sessão foi adiada por falta de acesso a Internet.
A vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 1991 foi acusada por quatro infrações. Também foi acusada de corrupção porque, segundo o regime, teria recebido 600.000 dólares em subornos e mais de 11 quilos de ouro.
A próxima audiência está prevista para 24 de março.
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