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Júri do assassinato de George Floyd assiste ao vídeo de sua morte

29.mar.2021 - O ex-policial Derek Chauvin (esq.), ao lado do advogado, ouve as alegações iniciais na retomada do seu julgamento no tribunal de Minneapolis. Ele é acusado de homicídio em segundo grau pela morte de George Floyd - Reuters
29.mar.2021 - O ex-policial Derek Chauvin (esq.), ao lado do advogado, ouve as alegações iniciais na retomada do seu julgamento no tribunal de Minneapolis. Ele é acusado de homicídio em segundo grau pela morte de George Floyd Imagem: Reuters

29/03/2021 17h31

O julgamento contra o ex-policial acusado de matar George Floyd, um caso que comoveu os Estados Unidos, começou nesta segunda-feira (29) com a transmissão ao júri do vídeo apavorante que mostra a agonia do afro-americano de 46 anos.

"Nove minutos e 29 segundos. Esse foi o tempo que durou", disse o promotor Jerry Blackwell, sobre o tempo que o policial de Minneapolis (Minnesota, norte) Derek Chauvin manteve o joelho pressionado sobre o pescoço de Floyd.

No vídeo, o júri ouviu Floyd, algemado e com o corpo estendido de bruços na calçada, tentando recuperar o fôlego enquanto os pedestres pediam ao policial para não usar tanta força.

Chauvin, vestido com um terno cinza e gravata azul, estava na mesa da defesa enquanto o vídeo era reproduzido e ocasionalmente fazia anotações em um bloco de notas amarelo.

Com 19 anos de trabalho na polícia, Chauvin é acusado de assassinato e homicídio culposo e enfrenta até 40 anos de prisão se for declarado culpado da acusação mais grave: assassinato em segundo grau.

O vídeo da morte de Floyd, gravado e transmitido ao vivo nas redes sociais por um pedestre, gerou protestos antirracistas e confrontos pelos abusos policiais contra os negros em todo os Estados Unidos e inclusive em outros países.

O presidente Joe Biden "certamente estará observando de perto, assim como os americanos de todo o país", afirmou seu porta-voz Jen Psaki, mencionando a "ferida" que este caso deixou no país.

Blackwell disse em sua declaração de abertura que o ex-policial de 45 anos não seguiu os procedimentos policiais e agiu de forma insensível ao continuar pressionando o corpo imóvel de Floyd contra o chão.

"Em 25 de maio de 2020, o senhor Derek Chauvin traiu seu distintivo policial quando usou uma força excessiva e irracional sobre o corpo do senhor George Floyd", disse Blackwell.

"Ele colocou seus joelhos sobre o pescoço e as costas, machucando-o e esmagando-o, até que sua respiração - não, senhoras e senhores, até que a própria vida - lhe fosse arrancada", continuou.

O julgamento de Chauvin se tornou o centro das atenções para o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) e uma prova sobre o exercício da justiça no âmbito policial.

"O mundo inteiro está observando", disse Ben Crump, advogado da família Floyd e dos direitos civis, antes das declarações iniciais.

"Hoje começa um julgamento histórico que será um referendo sobre o quão longe os Estados Unidos chegaram em sua busca pela igualdade e justiça para todos", afirmou Crump.

O advogado e os membros da família Floyd se ajoelharam durante o tempo em que Chauvin pressionou o joelho sobre o pescoço de Floyd no vídeo.

"Este caso é sobre Chauvin"

Blackwell deixou claro que não pretende julgar todos os policiais, somente Chauvin, que foi demitido do departamento de polícia de Minneapolis após o incidente.

"Este caso é sobre o senhor Derek Chauvin", destacou.

"Pediremos que seja declarado culpado de assassinato em segundo grau, assassinato em terceiro grau e homicídio culposo", disse.

A causa da morte de Floyd deve ser a questão central do caso e é provável que o vídeo assistido pelo júri seja uma prova chave.

Crump disse que o advogado defensor de Chauvin "vai tentar assassinar o caráter de George Floyd".

"Mas este é o julgamento de Derek Chauvin, vamos ver seu histórico", afirmou. "Os fatos são simples. O que matou George Floyd foi uma overdose de força excessiva".

Floyd morreu enquanto Chauvin o prendia pelo suposto uso de uma nota de 20 dólares falsa.

O advogado de Chauvin, Eric Nelson, disse ao júri que Floyd estava sob influência de drogas no momento de sua detenção e resistiu a ser detido.

"Derek Chauvin fez exatamente o que foi treinado a fazer", afirmou Nelson.

Ele pediu ao júri para ignorar a política e os movimentos sociais que rondam o caso.

"Não existe nenhuma causa política ou social nesta sala", acrescentou.

O julgamento de Chauvin acontece em uma sala de Minneapolis fortemente vigiada. O processo deve durar aproximadamente um mês.

O júri de 14 membros é racialmente misto: seis mulheres brancas, três homens negros, dois homens brancos e três mulheres negras.

Suas idades oscilam entre os 20 e os 60 anos e entre eles há um químico, um trabalhador social, um contador e um enfermeiro. Dois são imigrantes nos Estados Unidos.

Os policiais raramente são condenados nos Estados Unidos e a sentença por qualquer uma das acusações contra Chauvin exigirá que o júri emita um veredito unânime.

Nelson pediu que o julgamento fosse adiado e transferido para fora de Minneapolis devido ao anúncio realizado em 12 de março de que o governo da cidade chegou a um acordo de "morte por negligência" por 27 milhões de dólares com a família Floyd, mas o juiz Peter Cahill rejeitou essas demandas.

Outros três ex-policiais - Tou Thao, Thomas Lane e J. Alexander Kueng - também enfrentam acusações em relação à morte de Floyd. Eles serão julgados separadamente ao longo do ano.