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Meios audiovisuais da Nigéria sofrem com proibição do Twitter

12/06/2021 13h22

Lagos, 12 Jun 2021 (AFP) - Nas paredes da redação da News Central há uma inscrição: "não à mediocridade ou à desinformação". Mas para suas dezenas de jornalistas, quase todos com menos de 40 anos, o trabalho tem sido complicado desde a decisão do governo nigeriano de suspender o Twitter.

Nas novas instalações desta rede de televisão, no centro financeiro de Lagos, capital econômica da Nigéria, todos os lugares de edição estão ocupados e os apresentadores passam pela maquiagem antes de entrarem no estúdio. A televisão, lançada há apenas dois anos, tem a ambição de se tornar a maior rede pan-africana de informação permanente.

Mas, na sexta-feira, a decisão do governo de banir o Twitter, que tem mais de 40 milhões de usuários no país, caiu como uma bomba.

Na segunda-feira, as autoridades ordenaram que todas as televisões e rádios suprimissem sua conta no Twitter e deixassem de usar a rede social para buscar informações, mesmo com VPN (rede privada virtual), sob pena de ter sua licença suspensa.

Para a News Central, um jovem meio de comunicação em plena expansão, mas ainda com pouca visibilidade, a decisão é catastrófica.

"Dependemos muito do tráfego que nossos tuítes nos dão para divulgar nosso canal no YouTube e a cadeia de pagamento por satélite", diz à AFP Oladayo Martins, chefe de desenvolvimento web.

- Queda de "40%" -"Não sabemos o que vai acontecer agora. Já perdemos 40% dos telespectadores em cinco dias. Somos uma rede pan-africana, mas o nosso público é essencialmente constituído por jovens nigerianos", lamenta.

No país mais populoso da África, 75% dos 210 milhões de habitantes têm menos de 24 anos, segundo as Nações Unidas: uma juventude muito numerosa, mas também ultraconectada.

"Mostramos nossa vida no Instagram ou no Facebook, mas na hora de trocar, discutir assuntos da atualidade, isso é feito no Twitter", garante Tolulope Adeleru-Balogun, diretora de programas.

Uma das importantes emissões da rede, a NC Trendz, aborda as famosas "tendências" e "hashtags" que dão uma ideia do que está acontecendo na sociedade.

"Falávamos dos escândalos relacionados à violência contra as mulheres, do alerta a Bobi Wine, opositor ugandês, ou também dos debates em torno do confinamento na África do Sul", afirma.

"A África não é um só e único país, mas os problemas da juventude africana às vezes são semelhantes, e o Twitter é um instrumento incrível para unir o continente", ressalta.

Para muitos observadores e defensores dos direitos humanos, esta proibição é, acima de tudo, um golpe à liberdade de imprensa e expressão dos cidadãos, que estão cada vez mais críticos e virulentos contra o presidente Muhammadu Buhari sobre sua gestão econômica e de segurança.

"A criminalização do uso do Twitter não é apenas excessiva, é ilegal, pois não existe nenhuma lei em nosso código civil que defenda tal prática", denuncia Osai Ojigho, diretora da Anistia Internacional em Abuja.

A diretriz ministerial não foi votada no Parlamento e uma mídia independente decidiu processar o governo.

Os países ocidentais deploraram a decisão em um comunicado conjunto. E convocações para manifestação começaram a circular na rede, mas por enquanto todos os meios audiovisuais respeitam a proibição, em busca de alternativas.

A Arise News é a rede privada predileta da juventude nigeriana e, portanto, é impensável não ter redes sociais. Sua conta no Twitter, que tinha apenas 39.000 assinantes em maio de 2020, atualmente ultrapassa 292.000 seguidores.

Mas embora não seja possível conectar da alta torre de vidro do bairro de Ikoyi, os tuítes continuam a ser publicados... dos escritórios de Londres ou Washington.

Questionado sobre quando o Twitter será restaurado, o chefe de Estado Buhari, de 78 anos, sorriu e disse que estava guardando a resposta para si mesmo.

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