Peru continua sem presidente, enquanto direita pede anulação da eleição
A tensão cresceu hoje no Peru, que nove dias depois de votar, continua sem saber quem será seu novo presidente, após pedidos de políticos de direita para anular as eleições, cuja apuração dos votos dá uma pequena vantagem ao esquerdista Pedro Castillo.
"Continuam pedindo para derrubar a eleição", disse Castillo hoje a correspondentes internacionais na sede de seu partido em Lima. "Nós estamos aguardando pacientes um resultado", acrescentou.
Keiko Fujimori, que denuncia "fraude" e pediu para anular milhares de votos, solicitou também uma "auditoria informática" ao órgão eleitoral (ONPE), enquanto o Júri Nacional Eleitoral (JNE) antes de proclamar o vencedor está revisando as impugnações apresentadas por cada lado, principalmente pela candidata de direita.
"A democracia tem regras e prazos que todos devemos respeitar", declarou o cardeal Pedro Barreto nesta terça-feira ao canal RPP sobre os pedidos de anulação da eleição, e disse que a Igreja católica "está disponível" para mediação, com o objetivo de superar a "dolorosa e frustrante incerteza" que o país vivencia.
Ambos os órgãos eleitorais estão sob pressão dos setores mais radicais que apoiam Fujimori, que temem que a revisão das impugnações por parte do JNE não impeça uma vitória do professor de escola rural de esquerda.
A ONPE organiza as eleições e conta os votos, enquanto o JNE resolve as impugnações e proclama o vencedor oficial.
A imparcialidade dos dois órgãos autônomos foi avaliada pelos observadores da Organização de Estados Americanos (OEA), que disseram que a votação de 6 de junho foi limpa, sem "graves irregularidades".
"Novas eleições"
O almirante aposentado e parlamentar eleito Jorge Montoya pediu, na segunda-feira (15), para anular as eleições e convocar "novas eleições com auditores internacionais", ao afirmar no Twitter que o sistema eleitoral peruano "não representa mais confiança", e que por isso os chefes da ONPE e do JNE devem renunciar.
Nas ruas, dezenas de fujimoristas realizam diariamente manifestações em frente às casas dos chefes da ONPE, Piero Corvetto, e do JNE, Jorge Luis Salas, cujas residências estão agora sob custódia policial. Essa atitude foi denunciada pela comissária de direitos humanos da ONU, Michelle Bachelet.
Bachelet também expressou sua preocupação na segunda-feira pela tensão no Peru após as eleições, afirmando que está "surgindo uma fratura cada vez maior na sociedade peruana".
A última contagem do órgão eleitoral (ONPE) dá a Castillo uma vantagem de quase 45.000 votos (50,12% vs. 49,87% de Fujimori) com 99,98% dos votos apurados. Agora, todo o processo depende do que o JNE vai decidir para que os peruanos saibam quem será seu novo presidente.
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