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Traficante acusado de matar agente da DEA no México se declara inocente na prisão

18/08/2021 21h08

Miami, 19 Ago 2021 (AFP) - Miguel Ángel Félix Gallardo, narcotraficante condenado pelo assassinato de um agente antidrogas americano no México, declarou-se inocente, em entrevista transmitida da prisão mexicana em que ele cumpre pena por vários crimes.

Félix Gallardo, apelidado de "Chefe dos Chefes", está preso desde 1989, quando foi detido pelo assassinato de Enrique Camarena, agente disfarçado da DEA, agência antidrogas dos Estados Unidos. Em sua primeira entrevista concedida na prisão de Puerta Grande, no estado mexicano de Jalisco, ele negou todas as acusações que recebeu.

"Passaram-se 32 anos. É uma eternidade para um homem que não cometeu nenhum crime", disse ao canal Telemundo sobre sua condenação. Ele negou qualquer responsabilidade pela morte de Camarena, torturado e assassinado em 1985, após passar quatro anos infiltrado no cartel de Guadalajara, fundado por Gallardo, Ernesto Fonseca Carrillo e Rafael Caro Quintero.

"Não sei por que sou relacionado a ele, uma vez que não o conheci", afirmou, sobre o agente da DEA. Ele concedeu a entrevista em uma cadeira de rodas, cego de um olho e surdo de um ouvido, e se apresentou como "uma pessoa honesta, um homem que não era das armas".

Gallardo disse que, antes de ser preso, vivia da agricultura, pecuária, algumas farmácias e de dois antigos hotéis que lhe pertenciam. Na ânsia de se desvincular de qualquer crime, negou, inclusive, que houvesse cartéis das drogas em Guadalajara, no estado mexicano de Jalisco: "Nunca houve cartéis em Guadalajara. Talvez agora. Levávamos uma vida familiar."

À frente do cartel de Guadalajara, Félix Gallardo foi uma figura-chave na expansão do narcotráfico no México. Nos anos 1980, a organização, que, até então, dedicava-se ao tráfico de maconha e ópio, foi uma das primeiras a estabelecer contatos com chefes do tráfico colombianos para transportar cocaína do país sul-americano para os Estados Unidos.

A vida de Félix Gallardo começou a mudar com o assassinato de Camarena. Após a sua prisão, em 1989, ele foi condenado por crimes como tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. A Justiça, no entanto, demorou até 2017 para condená-lo pela morte do agente da DEA. Em agosto daquele ano, ele foi sentenciado a 37 anos de prisão.

Félix Gallardo apontou na entrevista que a violência no México "é consequência do desemprego, da desigualdade social", um problema que, segundo ele, "está sendo resolvido aos poucos" pelo presidente Andrés Manuel López Obrador.

O México vive uma onda de violência ligada ao tráfico de drogas que já resultou em mais de 300.000 assassinatos desde dezembro de 2006, quando o governo federal lançou uma operação polêmica para combater o crime organizado, segundo cifras oficiais.

gma/gm/lb