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Atentados em cidade do Afeganistão deixam dois mortos e 19 feridos

18.set.2021 - Membros do Talibã inspecionam local de uma explosão em Jalalabad - STR/AFP
18.set.2021 - Membros do Talibã inspecionam local de uma explosão em Jalalabad Imagem: STR/AFP

Em Cabul

18/09/2021 09h36Atualizada em 18/09/2021 11h34

Ao menos duas pessoas morreram e outras 19 ficaram feridas hoje em vários ataques com explosivos na cidade afegã de Jalalabad (leste), os primeiros desde a retirada total das tropas americanas, que mostram a frágil situação do país em questão de segurança.

"Em pelo menos um dos ataques, o alvo foi um veículo com talibãs que patrulhavam a cidade", disse à AFP uma fonte talibã que não quis revelar sua identidade. "Entre os feridos há mulheres e crianças", acrescentou.

Um responsável do departamento de Saúde do estado de Nangarhar, cuja capital é Jalalabad, disse que havia três mortos e 18 feridos nas explosões. A mídia local informa dois mortos.

Os ataques não foram reivindicados até agora.

Fotos do local de uma das explosões mostram um veículo verde da polícia com a bandeira do Talibã, com o capô deformado e quase em posição vertical, em meio aos escombros.

Jalalabad é o bastião de membros do Estado Islâmico no Afeganistão, rivais dos talibãs e que já reivindicaram o sangrento atentado que matou mais de 100 pessoas no aeroporto de Cabul no final de agosto.

Desde que as tropas estrangeiras saíram do país, em 30 de agosto, não houve grandes atos violentos no Afeganistão. Paralelamente, os talibãs prometeram levar a a paz e a estabilidade de volta após 40 anos de guerras, crises e turbulências políticas.

Meninos sim, meninas não

Hoje, horas antes desses ataques, as escolas de ensino fundamental II e médio reabriram suas portas no Afeganistão, mas não havia alunas ou professoras. O Talibã permitiu o acesso apenas dos meninos, para o desgosto da Unicef, que pediu que "as meninas não sejam deixadas de lado".

O Ministério da Educação anunciou ontem que "todos os homens, professores e alunos" do ensino fundamental II e médio poderiam retornar às aulas, sem fazer nenhuma referência às professoras ou alunas. A decisão abrange estudantes de 13 a 18 anos.

As mulheres conservam o direito de estudarem na universidade, mas devem se cobrir com um abaya - uma túnica até os pés - e um hijab ou véu, e os cursos acontecem na medida do possível, sem misturar homens e mulheres.

As meninas também vão à escola do ensino infantil e fundamental I separadas dos meninos e algumas professoras continuam exercendo a profissão.

Desde seu retorno ao poder em agosto, o Talibã tenta tranquilizar os afegãos e a comunidade internacional, afirmando que os direitos das mulheres serão respeitados.

Essas afirmações, no entanto, não se refletem nas decisões do novo Executivo, no qual não há nenhuma mulher. A comunidade internacional e os afegãos temem que ocorra a mesma situação de quando os insurgentes governaram entre 1996 e 2001.

Naquele momento, o movimento islâmico promoveu uma política especialmente repressora contra as mulheres, as quais foram proibidas de trabalhar, estudar, praticar esportes e andar sozinhas na rua.

Nos últimos 20 anos, o número de escolas no país triplicou e o número de meninos e meninas escolarizados passou de um milhão para 9,5 milhões, segundo a agência da ONU.

Erro "trágico"

Um mês após a tomada de Cabul pelo Talibã e após as evacuações caóticas de milhares de afegãos e estrangeiros, o exército dos Estados Unidos reconheceu, na sexta-feira, que matou dez civis inocentes em um erro "trágico", ao tomar como alvo um veículo que acreditou estar carregado com explosivos, em 29 de agosto.

No total, mais de 71.000 civis afegãos e paquistaneses morreram nos 20 anos de guerra no Afeganistão.

Também na sexta-feira, o Conselho de Segurança da ONU renovou por seis meses sua missão política no Afeganistão, voltada para a promoção da paz e da estabilidade. Os talibãs não se opuseram à presença da ONU.

O retorno dos islâmicos ao poder e a situação do país serão alguns dos temas centrais da Assembleia Geral da ONU na próxima semana. A questão de quem falará em nome do Afeganistão ainda não foi esclarecida.