Brasil cresceu acima de média mundial em 2024, mas perderá fôlego, diz ONU
Um levantamento realizado pela ONU e publicado nesta quinta-feira revela que a economia brasileira teve um crescimento acima da média mundial em 2024. Mas o informe aponta que a taxa de expansão perderá fôlego em 2025 e 2026.
Para o ano passado, a taxa estimada da ONU foi de um crescimento do PIB brasileiro de 3%, acima da média mundial de 2,8%. A taxa é bem superior ao crescimento médio de 1,9% na América Latina.
O Brasil ainda apresentou o maior reajuste na expectativa de crescimento entre as grandes economias globais. Entre a projeção da ONU em meados de 2024 e o atual informe, a taxa da expansão do PIB nacional foi elevada em 0,9 pontos percentuais.
Esses são os resultados para as principais economias mundiais em 2024:
Índia 6,9%
China 4.9%
Rússia 3,8%
Brasil 3%
EUA 2,8%
UE 0,9%
Reino Unido 0,8%
Japão -0,2%
Para a ONU, o que preocupa é que o crescimento da economia mundial continua abaixo do que existia até 2019.
"Embora a economia global tenha demonstrado resiliência em uma série de convulsões que se reforçam mutuamente, o crescimento continua abaixo da média pré-pandêmica de 3,2%, devido à falta de investimento, ao fraco crescimento da produtividade e aos altos níveis de endividamento", alertou.
Desaceleração em 2025 e 2026
Apesar do bom desempenho brasileiro em 2024, a ONU alerta que a previsão para o Brasil é de que o "crescimento econômico desacelere" para 2,3% em 2025 e 1,9% em 2026.
Caso se confirme, a taxa fica abaixo do crescimento mundial, de 2,8% em 2025. Ainda assim, o desempenho vai permanecer bem acima da média de 1,4% de crescimento entre 2010-2019.
"Essa desaceleração moderada reflete os ventos contrários de uma política monetária mais rígida, gastos fiscais reduzidos e exportações mais fracas", indica.
"O crescimento da formação bruta de capital fixo também deve desacelerar em 2025 devido aos custos de financiamento mais altos. Apesar desses desafios, o consumo privado provavelmente permanecerá resiliente, apoiado por um mercado de trabalho forte, gastos sociais elevados e um aumento no salário mínimo", destacou.
A ONU ainda aponta que, "no contexto de um crescimento econômico sólido, a taxa de pobreza no Brasil caiu cerca de 3 pontos percentuais nos últimos anos, ficando em 16,1% em 2023".
"No médio prazo, espera-se que os investimentos se beneficiem da reforma de simplificação tributária programada para ser implementada em 2026", destacou.
Outro ponto destacado pela ONU se refere ao desemprego e pobreza no Brasil. Segundo o informe, as taxas de desemprego continuaram a diminuir em 2024 no país.
"No Brasil, por exemplo, a taxa de desemprego caiu para o nível mais baixo da década de 6,2% em outubro de 2024 em meio a uma atividade econômica resiliente", afirmou.
Incertezas geopolíticas no mundo em 2025
Para a ONU, a previsão é de que 2025 irá manter a taxa de crescimento global de 2,8%. Mas o ano deve ser marcado por incertezas geradas por "riscos ligados a conflitos geopolíticos crescentes tensões comerciais e altos custos de empréstimos em muitas partes do mundo". Quem mais sofrerá, porém, serão os mais pobres.
"Os países não podem ignorar esses riscos. Em nossa economia interconectada, os distúrbios em uma extremidade do mundo aumentam os preços na outra. Todos os países têm uma participação nisso e devem fazer parte da solução", disse António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas.
Eis as projeções para 2025:
Índia 6,6%
China 4,8%
Brasil 2,3%
EUA 1,9%
Rússia 1,5%
UE 1,3%
Reino Unido 1,2%
Japão 1%
No que se refere à América Latina, a ONU estima que a perspectiva econômica de curto prazo continua "moderadamente favorável". "Espera-se que o crescimento do PIB regional acelere de um valor estimado de 1,9% em 2024 para 2,5% em 2025, superando a taxa média de crescimento de 1,7% observada entre 2010 e 2019", afirmou.
A entidade estima que, em 2025, é provável que o impulso econômico seja dado pelo "crescimento resiliente no Brasil, bem como pela recuperação gradual na Argentina após uma recessão prolongada".
"No entanto, há riscos significativos de queda que podem inviabilizar essa perspectiva. Na frente externa, uma desaceleração mais acentuada do que a esperada na China e nos Estados Unidos afetaria negativamente as exportações, as remessas e os fluxos de capital. Além disso, o aumento da volatilidade nos preços das commodities poderia minar a confiança dos investidores e desestimular os investimentos de longo prazo", alertou.
No âmbito doméstico, as incertezas políticas podem diminuir a confiança das empresas e os investimentos.
Inflação
No caso da inflação brasileira, a expectativa é de queda. Depois de registrar uma expansão de 4,2% em 2024, a taxa cairia para 3,7% em 2025 e 3,4% em 2025.
A ONU também confirma que a inflação regional deve "continuar seu declínio gradual, caindo de um valor estimado de 4,8% em 2024 para 3,8% em 2025".
"Ao longo de 2024, as pressões inflacionárias diminuíram na maioria das economias devido aos preços internacionais mais baixos de alimentos e energia, às políticas monetárias restritivas e à depreciação mais branda da moeda. Como resultado, a inflação geral convergiu gradualmente para os intervalos das metas dos bancos centrais em várias economias, inclusive no Brasil, Peru e Uruguai. Entretanto, a inflação continua elevada na maioria dos países devido à inflação persistente nos setores de serviços", disse.
No Brasil, onde a meta de inflação do banco central a meta de inflação varia entre 1,5% e 4,5%, a inflação anual oscilou em torno de 4,4% no final de 2024", destacou.
Taxa de juros
A ONU ainda destaca que, na América Latina, as taxas de juros em toda a região permanecem restritivas e altas em comparação com as baixas recordes durante o período de 2021-2022.
"Uma exceção notável é o Brasil, onde o Banco Central aumentou as taxas de juros para 11,25% em novembro de 2024 em meio ao aumento das expectativas de inflação e ao crescimento econômico resiliente", indicou.
A ONU apontou que muitas economias enfrentaram pressões inflacionárias externas, como a desvalorização da moeda em relação ao dólar dos Estados Unidos, graves desafios na balança de pagamentos ou sanções econômicas.
"O Banco Central do Brasil apresenta um caso único, tendo entrado em uma fase de flexibilização em agosto de 2023, à frente de muitos de seus pares, apenas para reverter o curso em setembro de 2024, após apenas 10 meses, devido ao ressurgimento de pressões inflacionárias decorrentes de um crescimento econômico mais forte do que o esperado", disse.
A ONU ainda destaca que entre as economias do G20, grandes devedores líquidos em termos de PIB em meados de 2024 incluem o Brasil (36%), o México (37%) e a Turquia (33%).
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