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'Cocaleros' enfrentam a polícia e queimam viaturas na Bolívia

25/09/2021 00h00

La Paz, 25 Set 2021 (AFP) - "Cocaleros" voltaram a enfrentar a polícia nesta sexta-feira em La Paz, onde cinco viaturas foram incendiadas, em meio a disputas entre camponeses opositores e apoiadores do governo pelo controle de um mercado que comercializa a folha de coca.

Os confrontos começaram quase ao meio-dia, quando camponeses da oposição tentaram entrar na sede da Associação Departamental dos Produtores de Coca (Adepcoca), tomada na segunda-feira por membros de outro sindicato ligado ao governo de esquerda do presidente Luis Arce, que reivindica sua liderança.

A sede da Adepcoca fica no bairro de Villa Fátima, ponto de partida para os vales subandinos de Yungas, onde a coca é cultivada desde antes do Império Inca, que prosperou no século XV. Naquele local, a coca é comercializada legalmente para mascar e para fazer infusões e rituais religiosos aimarás, e são concedidas autorizações para sua distribuição.

Centenas de camponeses opositores tentaram chegar ao mercado, utilizando foguetes, pedras, paus e até dinamite, mas o complexo estava sendo guardado pela polícia de choque, que fez um abundante uso de gás lacrimogêneo para dispersá-los.

Durante os incidentes, a sede policial de Villa Fátima, a poucas quadras do mercado, foi atacada pelos camponeses, que queimaram cinco carros da polícia. Dois caminhões de bombeiros foram apagar as chamas. "São cinco os veículos policiais que foram afetados", disse um dos bombeiros à imprensa, garantindo que não houve registro de feridos.

O vice-ministro de Segurança Cidadã do Ministério do Interior, Roberto Ríos, informou em entrevista coletiva que "os danos estão sendo calculados e somariam mais de 40 mil dólares", e confirmou que três camponeses foram detidos.

"Vimos hoje a péssima atitude da polícia", comentou o líder cocalero Ronald López, membro do grupo que tentou retomar os escritórios de comercialização da folha milenar. Após algumas horas, os ânimos se acalmaram e a polícia restabeleceu o trânsito de pessoas e veículos na área.

O escritório da alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos ressaltou que o "uso excessivo e desproporcional da força mina a confiança nas instituições e constitui uma violação de direitos que deve ser investigada e punida, para que não se repita".

O governo buscava abrir neste sábado uma mesa de diálogo com os grupos em conflito.

Na última quarta-feira, foram registados os primeiros incidentes por conta da disputa pelo controle da Adepcoca. Um jornalista foi preso e outro ficou ferido enquanto cobria os acontecimentos.

No dia seguinte, os distúrbios entre camponeses e policiais se intensificaram, com seis feridos e 33 presos.

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