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Maria Ressa, um símbolo da liberdade de expressão nas Filipinas

Jornalista Maria Ressa em imagem de 2019 em Manilla, nas Filipinas; vencedora do prêmio Nobel da Paz 2021 - TED ALJIBE/AFP
Jornalista Maria Ressa em imagem de 2019 em Manilla, nas Filipinas; vencedora do prêmio Nobel da Paz 2021 Imagem: TED ALJIBE/AFP

08/10/2021 09h32Atualizada em 08/10/2021 09h59

A jornalista filipina Maria Ressa, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz nesta sexta-feira (8), tornou-se um símbolo da liberdade de expressão, em um momento em que líderes autoritários proliferam pelo mundo.

Responsável por correspondentes da CNN no Sudeste Asiático ao longo de duas décadas, Ressa criou o portal Rappler em 2012. O site publica matérias investigativas, informando de maneira inconformista sobre as Filipinas e com uma visão crítica do presidente Rodrigo Duterte.

Ressa e seu veículo enfrentaram vários processos judiciais, após terem publicado informações críticas sobre o presidente e sua luta sangrenta contra o tráfico de drogas.

"Esse é o melhor momento para ser jornalista", disse Ressa em uma entrevista on-line transmitida pelo Rappler, logo após o anúncio do Nobel.

"Um mundo sem fatos significa um mundo sem verdade e sem confiança", acrescentou a repórter, que tem dupla cidadania, filipina e americana, e estudou na prestigiosa Universidade de Princeton.

Ressa, de 58 anos, recebeu em abril o Prêmio Mundial da Liberdade de Imprensa Unesco/Guillermo Cano 2021, criado em memória do jornalista colombiano Guillermo Cano, assassinado em 1986.

Além disso, foi eleita uma das personalidades do ano em 2018 pela revista Time, graças à sua defesa da liberdade de expressão. Foram suas detenções, no entanto, que a tornaram muito mais conhecida internacionalmente.

Devido ao seu exigente trabalho jornalístico, ela foi presa duas vezes, enfrentou várias investigações judiciais e também sofreu intenso cyberbullying.

Seu meio digital teve de lutar pela sobrevivência diante dos constantes ataques do governo Duterte, que acusava o veículo de sonegação de impostos e financiamento ilegal por meio de fundos estrangeiros.

Depois da publicação de uma reportagem sobre um de seus assistentes mais próximos, Duterte chamou o Rappler de "loja de fake news".

Embora o Executivo tenha dito que o presidente nada tinha a ver com os processos judiciais contra Rappler, advogados que defendem a liberdade de expressão discordam.

Apesar de todas as pressões recebidas, Ressa continuou a trabalhar nas Filipinas e a reportar criticamente sobre o governo de seu país.

"Ser um pilar"

"Não sou apenas uma repórter", disse a jornalista em uma entrevista à AFP no ano passado.

"Meu trabalho consiste em ser um pilar (...) para que nossos colaboradores continuem trabalhando", explicou.

As ameaças na Internet começaram poucos meses após a posse de Duterte como presidente em 2016 e o início de sua "guerra às drogas", que causou milhares de mortes e agora está na mira do Tribunal Penal Internacional (TPI).

Ressa calculou que, ao final de 2016, recebia mais de 90 mensagens agressivas por hora nas redes.

O Rappler é um dos meios de comunicação que publicaram imagens chocantes das execuções e que questionaram os princípios jurídicos da polêmica ofensiva contra o narcotráfico.

A polícia filipina prendeu Ressa pela primeira vez em fevereiro de 2019 em um caso de difamação. Dois meses depois, seu portal foi acusado de violar a lei que proíbe a mídia de ter proprietário estrangeiro.

"Comecei como repórter em 1986 e trabalhei em muitos países. Atiraram em mim, me ameaçaram, mas nunca experimentei uma morte tão lenta", ela reagiu, após sua primeira condenação por difamação em 2020.

Liderando os escritórios da CNN em Manila e em Jacarta, ela se especializou em terrorismo, investigando ligações entre redes globais da Al-Qaeda e ativistas do Sudeste Asiático.

Também dirigiu o serviço de informações da ABS-CBN, a principal rede nas Filipinas.

"Precisamos continuar fazendo um jornalismo que exige prestação de contas", garantiu Ressa nesta sexta-feira.