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Nobel da Paz premia dupla por esforços para defender liberdade de expressão

Do UOL, em São Paulo

08/10/2021 06h04Atualizada em 08/10/2021 08h38

O Prêmio Nobel da Paz de 2021 foi concedido hoje aos jornalistas Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitry Muratov, da Rússia, por sua luta pela liberdade de expressão em seus respectivos países, anunciou o Comitê Nobel norueguês.

Ressa e Muratov foram reconhecidos "por seus esforços para proteger a liberdade de expressão, que é uma condição prévia para a democracia e a paz duradoura", disse a presidente do Comitê Nobel, Berit Reiss-Andersen, em Oslo.

Ao mesmo tempo, são representantes de todos os jornalistas que defendem esse ideal em um mundo em que a democracia e a liberdade de imprensa enfrentam condições cada vez mais adversas Comunicado do comitê do Nobel

Segundo a organização, Maria Ressa usa a liberdade de expressão para expor o abuso de poder, o uso da violência e o crescente autoritarismo em seu país natal, as Filipinas. Em 2012, ela foi cofundadora da Rappler, uma empresa de mídia digital para jornalismo investigativo.

Jornalista Maria Ressa em imagem de 2019 em Manilla, nas Filipinas; vencedora do prêmio Nobel da Paz 2021 - TED ALJIBE/AFP - TED ALJIBE/AFP
Jornalista Maria Ressa em foto de 2019 em Manilla, nas Filipinas; vencedora do prêmio Nobel da Paz 2021
Imagem: TED ALJIBE/AFP

Como jornalista e CEO da Rappler, Ressa tem se mostrado uma defensora destemida da liberdade de expressão. Rappler chamou a atenção da crítica para a campanha antidrogas do regime de Rodrigo Duterte, presidente do país.

Sobre Dmitry Muratov, um dos fundadores do jornal independente Novaja Gazeta em 1993, a organização destaca que "há décadas ele defende a liberdade de expressão na Rússia em condições cada vez mais desafiadoras".

"O jornalismo baseado em fatos e a integridade profissional da Novaja Gazeta a tornaram uma importante fonte de informação sobre aspectos censuráveis da sociedade russa raramente mencionados por outros meios de comunicação. Desde o início do jornal, seis de seus jornalistas foram mortos", ressaltou a organização, incluindo Anna Politkovskaja.

Crítica feroz do Kremlin, especialmente por sua sangrenta guerra na Chechênia, a jornalista foi assassinada na entrada de casa em 7 de outubro de 2006, mesmo dia do aniversário do presidente Vladimir Putin.

Jornalista russo Dmitry Muratov, do jornal Novaya Gazeta, em imagem de março de 2021; vencedor do prêmio Nobel da Paz 2021 - NATALIA KOLESNIKOVA/AFP - NATALIA KOLESNIKOVA/AFP
Jornalista russo Dmitry Muratov, do jornal Novaya Gazeta, em imagem de março de 2021; vencedor do prêmio Nobel da Paz 2021
Imagem: NATALIA KOLESNIKOVA/AFP

Desde 1995 Muratov é editor-chefe do periódico, que já publicou artigos críticos sobre assuntos que vão desde corrupção, violência policial, prisões ilegais, fraude eleitoral e "fábricas de trolls" até o uso de forças militares russas dentro e fora da Rússia.

O jornalismo gratuito, independente e baseado em fatos serve para proteger contra o abuso de poder, mentiras e propaganda de guerra. O Comitê Norueguês do Nobel está convencido de que a liberdade de expressão e a liberdade de informação ajudam a garantir um público informado. Esses direitos são pré-requisitos essenciais para a democracia e protegem contra guerras e conflitos Comitê Nobel norueguês

"A entrega do Prêmio Nobel da Paz a Maria Ressa e Dmitry Muratov tem como objetivo destacar a importância de proteger e defender esses direitos fundamentais. Sem liberdade de expressão e de imprensa, será difícil promover com sucesso a fraternidade entre as nações, o desarmamento e uma ordem mundial melhor para ter sucesso em nosso tempo", acrescentou o comitê.

No ano passado, o Prêmio Nobel da Paz foi concedido para o Programa Mundial de Alimentação da ONU (Organização das Nações Unidas) por seu combate contra a fome.

Nobel 2021

Na segunda-feira, o Nobel de Medicina premiou o cientista americano David Julius e o americano de origem libanesa e armênia Ardem Patapoutian "por suas descobertas de receptores para temperatura e tato". Na terça-feira, venceram o Nobel de Física os cientistas Syukuro Manabe, Klaus Hasselmann e Giorgio Parisi por suas "contribuições inovadoras para a nossa compreensão de sistemas físicos complexos".

Na quarta-feira, o Prêmio Nobel de Química foi concedido a Benjamin List e David W.C. MacMillan pelo desenvolvimento de uma nova ferramenta precisa para a construção molecular. Ontem, o escritor natural da Tanzânia Abdulrazak Gurnah ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, anunciado pela Academia Sueca.

O prêmio de Economia, criado em 1968, encerrará a temporada na próxima segunda-feira (11).

História do prêmio

Os prêmios Nobel nasceram da vontade do sábio e industrial sueco Alfred Nobel (1833-1896), inventor da dinamite, de legar grande parte de sua fortuna aos que trabalham por "um mundo melhor". Ele é lembrado como o patrono das artes, das ciências e da paz que, antes de morrer, no limiar do século 20, transformou a nitroglicerina em ouro.

Em seu testamento, assinado em Paris em 1895, um ano antes de sua morte em San Remo (Itália), ele designou os diferentes comitês que atribuem os prêmios a cada ano: a Academia Sueca para o de Literatura, o Karolinska Institutet para o de Medicina, a Real Academia Sueca de Ciências para o de Física e o de Química, e um comitê cinco membros especialmente eleitos pelo Parlamento norueguês para o da Paz.