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Aung San Suu Kyi foi condenada, mas uma nova resistência nasce em Mianmar(analistas)

07/12/2021 12h46

Bangcoc, 7 dez 2021 (AFP) - O exército de Mianmar espera que a prisão da ex-líder birmanesa Aung San Suu Kyi sufoque definitivamente sua influência e a de seu partido, mas uma nova, às vezes violenta, resistência à Junta está ganhando força no país, segundo analistas.

Dez meses após o golpe militar que derrubou o governo de Suu Kyi em 1º de fevereiro, a vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 1991 foi condenada a dois anos de prisão na segunda-feira por incitar a desordem pública e violar as regras sanitárias.

"Essas são penalidades muito leves que o regime poderia perdoar, mas optou por não fazê-lo", explica o cientista político Soe Myint Aung, que mora em Mianmar.

"Os militares parecem ter redobrado os esforços em uma abordagem muito opressora" contra Aung San Suu Kyi e seu partido, a Liga Nacional para a Democracia (NLD), disse o analista.

A sentença despertou preocupação e desaprovação da comunidade internacional.

Suu Kyi enfrenta ainda outras acusações (sedição, corrupção, fraude eleitoral) que podem custar-lhe 15 anos de prisão.

Sua detenção em 1º de fevereiro levou ao fim de um hiato democrático de dez anos no país, após mais de meio século de regime militar.

Nas últimas semanas, outros membros do NLD foram condenados a duras penas de prisão.

Um ex-ministro foi condenado este mês a 75 anos de prisão e um amigo próximo de Suu Kyi terá de passar 20 anos na prisão.

- Enigma político -"Afastar Aung San Suu Kyi e finalmente destruir seu partido parece com um episódio final", disse à AFP o analista independente David Mathieson, que trabalhou para várias organizações das Nações Unidas.

Mas eles também podem ter aberto a caixa de Pandora, diz Mathieson: "Pode ter (a junta) criado uma força política mais determinada do que Aung San Suu Kyi para acabar com o regime."

A ex-líder birmanesa continua muito popular em seu país, apesar das críticas externas por ter compartilhado o poder com os generais e por não ter defendido a minoria rohingya.

Depois de ouvir a sentença, os habitantes de Yangon saíram às ruas na segunda-feira batendo panelas. Uma prática tradicional para afastar os maus espíritos que tem sido usada desde fevereiro para expressar insatisfação com o poder.

No entanto, apenas algumas imagens de Aung San Suu Kyi, divulgadas pela mídia estatal, foram vistas. Seus advogados estão proibidos de falar com a mídia.

Para muitos manifestantes, Suu Kyi e seu partido não são mais capazes de acabar com o décadas de poder dos militares sobre Mianmar.

Alguns especialistas dizem que centenas receberam treinamento de combate em áreas controladas pelos rebeldes, uma tática de resposta ao poder militar muito diferente do princípio de não violência que Suu Kyi prega.

Por outro lado, um governo paralelo, dominado por deputados do partido de Aung San Suu Kyi e retaliado pela Junta, declarou uma "guerra popular defensiva" contra o regime.

Embora a Junta afirme querer organizar novas eleições, meses de repressão sangrenta deixaram pouco espaço para o tipo de compromisso entre o LND e os militares que caracterizou o governo da ex-líder.

Muito provavelmente, o LND continuará a existir como uma ferramenta para acabar com os golpistas, contando com a mobilização da resistência civil e armada contra os generais, diz Mathieson.

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