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Blinken pede que Putin escolha 'via pacífica' durante visita à Ucrânia

19/01/2022 21h22

Kiev, 20 Jan 2022 (AFP) - O secretário de Estado americano, Antony Blinken, pediu nesta quarta-feira (19) ao presidente russo, Vladimir Putin, que escolha a "via pacífica" na crise com a Ucrânia, enquanto o presidente Joe Biden, em Washington, alertou que a Rússia sofrerá um "desastre" se invadir o país vizinho.

Blinken, que se reunirá na sexta-feira com o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, em Genebra, também anunciou que não fornecerá uma resposta por escrito a uma série de demandas russas nessa reunião, apesar da insistência de Moscou.

"Espero, firmemente, que possamos manter isso em uma via pacífica e diplomática, mas, em última análise, esta é uma decisão do presidente Putin", afirmou Blinken na Embaixada dos Estados Unidos em Kiev.

Enquanto isso, em Washington, Biden se questionava sobre as intenções de Putin na Ucrânia, se seria uma "pequena incursão" ou uma "guerra em grande escala". O presidente americano também apontou para uma solução diplomática e antecipou que Moscou pagaria um alto preço se invadisse a Ucrânia.

"Será um desastre para a Rússia", ameaçou Biden.

"Acho que ele ainda não quer uma guerra em grande escala", disse Biden sobre seu colega russo. No entanto, o presidente americano acredita que Putin "testará o Ocidente" e "terá que fazer alguma coisa" e provavelmente "avançar" em direção à Ucrânia de uma forma ou de outra.

Biden reconheceu que a reação e a unidade dos ocidentais dependeriam do que Moscou fizer. "Se for uma pequena incursão", os membros da Otan podem estar divididos sobre o alcance da resposta, mas se os russos "fizerem tudo que podem com as forças que se concentraram na fronteira, será um desastre para a Rússia", insistiu.

"A situação pode ficar fora de controle", explicou. "Se invadirem, vão pagar, não poderão mais passar pelos bancos, não poderão fazer transações em dólares", alertou Biden, citando possíveis sanções sem precedentes.

A Rússia mobilizou dezenas de milhares de soldados para a fronteira com a Ucrânia, aumentando os temores de uma invasão. Embora negue qualquer intenção bélica, o Kremlin insiste que uma desescalada exige garantias para sua segurança, em particular o compromisso do Ocidente de não expandir a Otan para o leste, inclusive para a Ucrânia.

O secretário de Estado americano, que se reuniu nesta quarta-feira com o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, e seu homólogo Dmitro Kuleba, indicou que a bola está agora no campo da Rússia.

- "Tempos difíceis" -Washington também anunciou "uma ajuda de mais 200 milhões de dólares para a defesa e segurança" da Ucrânia, o que certamente irritará a Rússia, que pode vê-la como uma ameaça.

O presidente Zelensky, que muitas vezes lamenta a aparente falta de compromisso do Ocidente com seu país diante da Rússia, agradeceu aos Estados Unidos nesta quarta-feira por sua "ajuda militar" em "tempos difíceis".

Após sua visita a Kiev, o chefe da diplomacia dos EUA deve estar em Berlim na quinta-feira para discutir com Alemanha, França e Reino Unido. Na sexta-feira, Blinken deve se reunir com seu colega russo em Genebra, para tentar retomar o diálogo.

O Kremlin exigiu novamente nesta quarta-feira respostas por escrito "nos próximos dias" às suas exigências, em particular no que diz respeito à não ampliação da Otan.

Blinken destacou que não apresentará "nenhum documento" por escrito. "Temos que ver onde estamos localizados e se ainda há oportunidades", disse ele.

Moscou enfatizou que suas demandas não são negociáveis e os Estados Unidos consideram as principais como inaceitáveis.

O chefe da diplomacia ucraniana disse esperar que as negociações em Genebra levem a um "comportamento menos agressivo e mais construtivo por parte da Rússia".

Após uma rodada de negociações na semana passada, russos e ocidentais, com os americanos à frente, constataram o abismo que os separa da Rússia.

Blinken reafirmou nesta quarta-feira que os Estados Unidos e seus aliados imporão "consequências muito severas" à Rússia no caso de uma invasão ou agressão à Ucrânia. Moscou minimizou essas ameaças.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, garantiu a Zelensky seu apoio "diante da ameaça da Rússia".

Para superar essas tensões, o Kremlin exige, além de um acordo que proíba qualquer expansão da Otan, que os ocidentais desistam de organizar exercícios militares e desdobramentos na Europa Oriental.

A Rússia é considerada, apesar de suas negativas, patrocinadora de combatentes pró-Rússia em guerra contra Kiev por oito anos no leste da Ucrânia.

Moscou acusa regularmente Kiev de querer lançar um ataque a esta região, algo que seu ministro das Relações Exteriores nega.

A Ucrânia "não prevê nenhuma operação ofensiva" contra os separatistas pró-Rússia, disse o ministro, assegurando que quer "uma solução política" para as tensões.

Nesta quarta-feira, os separatistas pró-Rússia acusaram Kiev de manter as tensões para ganhar apoio do Ocidente.

"É do interesse da Ucrânia manter essa situação instável porque atrai a atenção de seus parceiros ocidentais, ganha peso político e apoio financeiro", disse Natalia Nikonorova, chefe de diplomacia da autoproclamada república secessionista de Donetsk.

- "Paz e tranquilidade" - Na cidade de Donetsk, um dos redutos separatistas perto do front, grandes bandeiras patrióticas pró-Rússia foram exibidas em antigos prédios soviéticos em ruínas: "Glória aos guerreiros da libertação" ou "Somos o Donbass russo", referindo-se à região ucraniana separatista.

"As conversas são boas, pelo menos não é uma guerra", disse Alexei Bokarev, um mineiro aposentado de 77 anos.

"Como tudo isso vai acabar? Ninguém sabe, mas o fato é (...). Todos estão interessados nessa questão, pela paz e tranquilidade", disse.

A Rússia diz que se sente ameaçada pelo fortalecimento da Otan na Europa Oriental.

Em resposta a uma revolução pró-ocidental na Ucrânia, a Rússia anexou a península da Crimeia em 2014.

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