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Repartir o pão para conter a fome em Cabul

19/01/2022 10h24

Cabul, 19 Jan 2022 (AFP) - Nos últimos dias, nas primeiras horas da manhã, Muhajira Amanallah enfrenta o frio e dirige-se a uma pequena padaria em Cabul, onde afegãos desesperados recebem um pouco de pão para combater a fome.

Para sua família e outros que fazem fila em frente à loja e seu modesto forno, o cardápio do dia às vezes se limita a essas poucas mordidas de naan, um pão típico da Ásia Central e do Sul.

"Se eu não buscar o pão daqui, vamos dormir sem comer", explica Amanallah, que tem que cuidar de suas duas filhas e do marido viciado em drogas.

Cheguei "até a pensar em vender minhas filhas", confessa, para descrever sua dramática situação. "Mas desisti e decidi confiar em Alá", acrescenta à AFP.

Esta distribuição de alimentos, que começou no sábado em Cabul, faz parte de uma campanha organizada por um professor universitário da cidade, sob o lema "Salve os afegãos da fome".

A situação humanitária no Afeganistão sofreu uma reviravolta dramática desde o retorno ao poder do Talibã em agosto e o fim da ajuda internacional maciça, que financiava quase 80% do orçamento do país.

O desemprego disparou e muitos funcionários públicos não recebem nenhum salário há meses.

A fome ameaça hoje 23 milhões de afegãos, ou 55% da população, segundo a ONU.

Graças à distribuição do pão, pelo menos 75 famílias receberão uma ração diária de "naan" em sete distritos da capital afegã, que atualmente está coberta de neve e sujeita ao rigor do inverno.

Na fila, Nuriya Sultanzoy e cinco outras mulheres estão envoltas em burcas azuis cobrindo-as da cabeça aos pés, de acordo com as recomendações do Talibã.

Desde a morte do marido, esta mãe de cinco filhos contava com a generosidade dos amigos. Mas agora que a pobreza irrompe, não recebe nada.

"Você come arroz ou sopa com cenoura e nabo... e substitui a carne por pedaços de pão", diz, enquanto as crianças, com sapatos esfarrapados, brincam perto de adultos na completa miséria.

"As pessoas perderam seus empregos e não têm mais nenhuma fonte de renda", constata o padeiro Makram El Din, que viu suas vendas cair.

"Costumávamos usar quatro sacos de farinha por dia, agora só utilizamos metade", afirma.

As Nações Unidas pedem 4,4 bilhões de dólares dos países doadores para enfrentar crise humanitária no Afeganistão em 2022.

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