Catalunha aprova resolução para limpar memória de suas 'bruxas'
Barcelona, 26 Jan 2022 (AFP) - Torturadas, enforcadas e acusadas de crimes sem fundamento, o Parlamento da Catalunha aprovou nesta quarta-feira (26) uma resolução para reparar a memória de centenas de mulheres executadas por bruxaria durante três séculos nesta região do nordeste da Espanha e fazer justiça a essas mulheres.
A iniciativa, promovida por diversos grupos independentistas e de esquerda, as reconhece como "vítimas de perseguição misógina" e insta, por exemplo, o governo regional e os municípios a incluírem seus nomes em ruas de localidades catalãs.
Presente em muitos territórios por séculos, a caça às bruxas foi bastante intensa no que hoje é a Catalunha. Segundo a revista Sàpiens, cujas pesquisas em conjunto com o historiador Pau Castell serviram de base para a resolução, a região foi um dos primeiros lugares da Europa a implementar ações contra a bruxaria, em 1471. Foi também uma das regiões em que houve mais execuções em todo o continente.
"Recentemente, foram recuperados os nomes de mais de 700 mulheres que, entre os séculos XV e XVIII, foram processadas, torturadas e executadas", diz a proposta apresentada por partidos como o Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que governa a comunidade autônoma, e também o independentista JxCat.
As vidas e mortes trágicas dessas mulheres serão revisadas agora sob a perspectiva de gênero para sensibilizar a população sobre os processos que elas sofreram, seguindo iniciativas similares desenvolvidas na Escócia, Suíça, Noruega e na região espanhola de Navarra, de acordo com o texto aprovado.
"Antes nos chamavam de bruxas. Agora nos chamam de 'feminazi', histéricas, 'mal comidas'. Antes se chamava caça às bruxas e, agora, chamamos isso de feminicídio", afirmou a deputada regional Jenn Díaz, do ERC, na tribuna da câmara regional.
A iniciativa, à qual se opuseram os legisladores de direita e extrema direita, foi aprovada por 114 votos a favor, 14 contra e 6 abstenções.
O texto usou como base a campanha "Não eram bruxas, eram mulheres", lançada pela Sàpiens, que confeccionou um mapa e um censo das pessoas - a grande maioria mulheres, mas também houve alguns homens - injustamente condenadas.
"Quem não gostaria de morar na rua de María Joaneta ou de Antonia Rosquellas, ao invés da rua Nicolau Eimeric ou Cardeal Cisneros? Vamos fazê-lo", disse a deputada do JxCat Aurora Madaula, ao contrapor o nome de duas supostas bruxas com o de dois políticos conhecidos e membros da Inquisição.
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