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'Rendição ou morte', o dilema imposto aos russos por um povoado fantasma ucraniano

28/03/2022 11h57

Stoyanka, Ucrânia, 28 Mar 2022 (AFP) - Os franco-atiradores russos seguem com o alvo apontado para as ruas desertas da localidade ucraniana de Stonyanka, mas Andrii Ostapets espera poder levar alimentos aos seus vizinhos e gatos, caso eles estejam vivos.

Esse dono de um museu privado de 69 anos voltou uma semana depois de ter fugido deste povoado localizado em uma região no entorno de Kiev, após ter escutado que as tropas ucranianas estão repelindo as forças russas.

Quando a Rússia ocupou o povoado, "vimos gente morta, casas queimadas, vivemos um inferno", contou Ostapets, agasalhado do frio intenso por uma grossa jaqueta de couro.

O homem conta que, no dia anterior, as tropas de Moscou foram expulsas de sua fazenda.

"Os russos não possuem possibilidade alguma de permanecer com vida, podem se render ou morrer", afirmou.

Um vento frio sopra em Stoyanka, que se tornou uma cidade fantasma, depois de quase um mês estando na linha da frente ocidental dos combates, logo depois que a Rússia lançou a ofensiva para conquistar Kiev.

O som dos bombardeios seguem sendo ouvidos das montanhas que rodeiam o povoado e onde, segundo os voluntários ucranianos, estão os franco-atiradores russos. De longe, ouvem-se disparos.

Os combates continuam, mesmo com Moscou afirmando, na quinta-feira, que reduziu os objetivos de sua invasão para focar no leste do país, na região do Donbas.

A Ucrânia afirma que está conseguindo parar os russos, que estão estagnados na ofensiva à Kiev, mencionando zonas como Stoyanka, que está a 500 metros do limite oeste da capital ucraniana.

"Tenho um carro cheio de alimentos para as pessoas e para os bichos de estimação que ficaram aqui, vamos levar comida para eles", afirmou Ostapets. "Estamos esperando a permissão e vamos salvar quem ainda estiver com vida".

- Civis abatidos por franco-atiradores -Ao se aproximar de Stoyanka, a maioria das casas aparentam estar vazias e algumas estão destruídas pelos bombardeios.

Em um ponto de controle erguido com sacos de areia, há grupos de pessoas que esperam para entregar ajuda e um membro de uma milícia de voluntários os adverte que é um ato "suicida" tentar cruzar o centro do povoado.

"Hoje foram abatidos dois civis por franco-atiradores", alertou um voluntário da milícia de defesa civil com um fuzil AF-47 nas mãos.

A localidade segue sendo alvo de tiros, morteiros e bombardeios, muitos dos quais vem dos bosques próximos, explicou o voluntário.

Muitos dos habitantes que se atreveram a permanecer estão ficando sem comida.

Ao local, chega de surpresa a filha de Ostapets, Snizhana Shokina, que afirmou que quer fazer parte da equipe de ajuda. Esta guerra "dói na alma", disse.

"Não disse aos meus pais que ia vir porque iam ficar preocupados. Simplesmente, decidi vir", contou a mulher de 45 anos que tem dois filhos e vestida com uma jaqueta de ciclista.

A mulher afirmou que quer entregar comida e ajudar.

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