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Rússia confirma ataque contra Kiev durante visita do secretário-geral da ONU

29/04/2022 21h25

Kiev, Ucrânia, 30 Abr 2022 (AFP) - A Rússia confirmou nesta sexta-feira (29) ter atacado no dia anterior a capital ucraniana Kiev com armas de "alta precisão", durante a visita do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.

O ataque provocou a morte de uma produtora e jornalista da emissora Rádio Free Europe/Rádio Liberty, financiada pelo governo dos Estados Unidos, depois que sua casa foi atingida por um míssil.

O ministério da Defesa da Rússia informou que executou um ataque aéreo de "alta precisão de longo alcance" contra as instalações da empresa espacial e de fabricação de mísseis Artyom em Kiev.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, denunciou o ataque como uma tentativa de "humilhar a ONU e tudo o que esta organização representa".

A Alemanha descreveu o ataque como "desumano" e afirmou que é um sinal de que o presidente russo Vladimir Putin "não tem nenhum respeito pelo direito internacional".

O primeiro bombardeio na capital desde meados de abril ocorreu depois que Guterres visitou Bucha e outras cidades na periferia de Kiev.

Jornalistas da AFP viram um prédio em chamas, em uma área residencial de Kiev, com uma densa coluna de fumaça preta escapando pelas janelas quebradas.

"Ouvi o barulho de dois foguetes e duas explosões. Parecia o som de um avião voando e depois duas explosões com um intervalo de três ou quatro segundos", contou à AFP Oleksandr Stroganov, de 34 anos.

- Mais de 8.000 supostos crimes de guerra -O secretário-geral da ONU condenou o ataque e pediu a Moscou para "cooperar" com o Tribunal Penal Internacional (TPI) para "estabelecer as responsabilidades" sobre os supostos crimes cometidos contra civis em Bucha.

A procuradora-geral da Ucrânia, Irina Venediktova, disse à rede Deutsche Welle que foram identificados "mais de 8.000 casos" de supostos crimes de guerra.

Além disso, ela afirmou que há uma investigação em curso contra dez soldados russos suspeitos de cometer atrocidades em Bucha, onde dezenas de corpos com roupas civis foram encontrados após a retirada das tropas de Moscou.

Os fatos investigados, segundo Venediktova, incluem "assassinatos de civis, bombardeios de infraestruturas civis, torturas", assim como "crimes sexuais" denunciados "no território ocupado da Ucrânia".

O porta-voz do Departamento de Defesa americano, John Kirby, criticou a "depravação" do presidente russo, Vladimir Putin, e questionou que alguém com "sentido ético e moral" pudesse justificar os bombardeios contra hospitais e as execuções sumárias de inocentes.

Horas antes do bombardeio em Kiev, o presidente americano Joe Biden pediu ao Congresso 33 bilhões de dólares de ajuda adicional para apoiar a Ucrânia contra "as atrocidades e agressões" russas.

"O preço desta briga não é barato. Mas ceder à agressão vai ser mais caro", defendeu o presidente americano.

A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, declarou que os Estados Unidos querem que a guerra termine o quanto antes, mas que a ajuda militar americana se estenderá além de outubro.

- Batalha diplomática no G20 -Os Estados Unidos criticaram a presença de Putin na próxima cúpula do G20 de potências industrializadas e emergentes, prevista para novembro na ilha indonésia de Bali.

"Não podemos agir como se nada estivesse acontecendo em relação à participação da Rússia no âmbito da comunidade internacional e das instituições internacionais", declarou a porta-voz adjunta do Departamento de Estado, Jalina Porter.

O presidente indonésio, Joko Widodo, informou que convidou Putin, que já confirmou presença, assim como Zelensky.

- Bombardeio em Mariupol -A Rússia não conseguiu tomar Kiev desde que iniciou a invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro, mas concentrou suas tropas no leste e sul do país, principalmente em volta de Mariupol, sem deixar de bombardear com mísseis de longo alcance regiões no oeste e centro.

As autoridades tentam evacuar os civis de Mariupol, presos na gigantesca usina siderúrgica de Azovstal, onde estão concentrados os últimos núcleos de resistência.

O batalhão ucraniano Azov afirmou no Telegram que um hospital militar de campanha localizado no complexo industrial foi bombardeado.

A sala de cirurgia desabou e os soldados em tratamento foram mortos ou feridos, acrescentou, sem dar um balanço preciso. Enquanto isso, Kiev admitiu que as forças russas tomaram várias cidades na região do Donbass, no leste.

Na zona portuária de Mariupol, assolada por bombardeios, a AFP ouviu nesta sexta-feira fortes explosões em Azovstal durante uma visita da imprensa organizada pelo exército russo, com detonações contínuas.

O governo ucraniano admitiu que as forças russas capturaram várias cidades da região de Donbass, no leste.

As forças ucranianas, armadas pelas potências ocidentais, também reivindicaram algumas vitórias na linha de frente.

Um funcionário do alto escalão do Pentágono, que pediu anonimato, indicou que a ofensiva russa avança lentamente, com "vários dias de atraso" em relação à previsão original.

"Estão longe de ter feito a ligação" entre as tropas que entraram pela região de Kharkiv (leste) e as que vêm do sul do país, disse.

Na região de Kharkiv, os ucranianos alegaram ter recapturado Ruska Lozova, uma cidade "importante para a estratégia russa".

Até agora, o conflito obrigou 5,4 milhões de ucranianos a deixar seu país e mais de 7,7 milhões de pessoas fugiram de suas casas sem atravessar a fronteira, segundo uma estimativa da ONU, no momento em que a Organização Internacional das Migrações (OIM) lançou um pedido de ajuda por 514 milhões de dólares.

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