Hezbollah e aliados perdem maioria no Parlamento do Líbano
Beirute, 17 Mai 2022 (AFP) - A principal bancada parlamentar do Líbano, liderada pelo movimento armado xiita Hezbollah, perdeu a maioria nas eleições legislativas - conforme resultados definitivos anunciados nesta terça-feira (17), que confirmam 13 cadeiras para candidatos surgidos após os protestos de 2019.
A votação aconteceu no domingo (15), em um país mergulhado na pior crise socioeconômica de sua história, atribuída, por grande parte da população, organizações internacionais e países estrangeiros, à corrupção e à má gestão de uma classe dirigente há décadas no poder.
O movimento xiita apoiado pelo Irã, que tinha 70 das 128 cadeiras no Parlamento, não conseguiu a eleição dos 65 deputados necessários para conservar o controle da Câmara, anunciou o ministro do Interior, Bassam Mawlawi.
As perdas ficaram por conta dos aliados, já que o Hezbollah e seu parceiro xiita Amal mantiveram os 27 assentos que tinham até agora.
Outro ponto a ser destacado nestas eleições foi a forte entrada dos candidatos surgidos da revolta popular de 2019, a qual reivindicava a saída da classe dominante e uma refundação do sistema político baseado, até o momento, na distribuição de poder entre as diferentes comunidades de este país multiconfessional.
Com 13 cadeiras no poder, estes candidatos podem se alinhar com a oposição aos partidos tradicionais e ser a chave para a formação de um novo governo.
Em um evento até então inédito, dois candidatos independentes conquistaram assentos no sul do Líbano, posições ocupadas por aliados do Hezbollah há três décadas.
- Apelo por reformas -As Forças Libanesas, partido cristão que faz parte da elite política inalterável há três décadas e que se opõe firmemente ao Hezbollah, anunciou ter conquistado pelo menos 18 assentos, contra 15 em 2018.
Segundo observadores, a baixa taxa de participação de 41% - contra 49% em 2018 - mostrou que os partidos tradicionais não conseguiram mobilizar suas bases.
Diante da gravíssima crise econômica, a classe dominante foi acusada de deixar o país à deriva, ao não tomar nenhuma medida para corrigir o rumo.
Desde 2019, a moeda nacional perdeu mais de 90% de seu valor, os poupadores sofrem asfixiantes restrições bancárias, e o desemprego quase triplicou. Cerca de 80% da população vive abaixo da linha da pobreza, segundo a ONU. E, em 2020, o Estado caiu em "default" sobre sua dívida pela primeira vez em sua história.
Além disso, uma explosão devastou o porto de Beirute em agosto de 2020, matando mais de 200 pessoa e deixando milhares de feridos. Bairros inteiros foram destruídos na capital. A catástrofe foi amplamente atribuída à negligência dos líderes.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, felicitou o Líbano na segunda-feira pela gestão da votação.
"O secretário-geral também conta com o novo Parlamento para adotar, de urgência, todas as leis necessárias para estabilizar a economia e melhorar a governança", disse um comunicado de seu porta-voz.
Ele também destacou que a formação de um executivo permitirá "finalizar o acordo (atualmente em discussão) com o Fundo Monetário Internacional e acelerar a implementação das reformas necessárias para colocar o Líbano no caminho da recuperação".
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