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Freiras ortodoxas vivem sob bombardeios no leste da Ucrânia

17/06/2022 15h22

Adamivka, Ucrânia, 17 Jun 2022 (AFP) - "Aqui é possível ver a cratera deixada por um míssil Grad", mostra uma freira vestida de preto apontando para um enorme buraco no jardim de uma comunidade ortodoxa próxima à linha de frente no leste da Ucrânia.

Do outro lado do jardim, a irmã Anastasia aponta para os danos causados por uma bomba.

A comunidade está instalada no povoado de Adamivka, perto de Sloviansk, no Donbass (leste) e há algumas semanas, as freiras e peregrinos vivem sob o bombardeio quase constante das forças russas.

"Não houve mortos. Ninguém se foi. É nosso lugar... Não temos para onde ir", disse com calma a irmã Anastasia.

"Aqui há algumas freiras, há também peregrinos. No total somos 60 pessoas", disse.

As paredes brancas do edifício da congregação tem furos de balas.

Para visitar a comunidade é preciso a autorização do exército ucraniano, que controla a região.

- Sem eletricidade há meses -A comunidade ainda tem água e suprimentos, mas não tem eletricidade há meses.

"Confiamos na vontade de Deus, na ajuda de Deus, na ajuda de todos os santos e da Virgem Maria", disse a irmã Anastasia.

Os combates se intensificaram na face norte de Sloviansk, sem alcançar a intensidade dos combates nas regiões vizinhas de Severodonetsk e Lysychansk. Segundo Kiev, os russos "buscam pontos fracos" na defesa ucraniana.

O controle de Sloviansk tem uma dimensão simbólica: a cidade foi tomada pelos separatistas pró-russos em 2014 antes de ser reconquistada pelas forças ucranianas meses depois de um longo cerco.

A comunidade de Adamivka se dedica a um nativo do povoado, São João de Xangai, além de São Francisco, o destacado representante da Igreja Ortodoxa fora da Rússia, reconhecido por fiéis que rejeitaram o controle da KBG sobre a Igreja Ortodoxa durante a União Soviética.

Desde então, a comunidade restabeleceu os laços com a Igreja Ortodoxa russa. Mas a Igreja Ortodoxa ucraniana anunciou em maio que estava se separando da Rússia por causa da repressão, apoiada pelo Patriarca Kirill, líder da Igreja Ortodoxa russa e um firme defensor do presidente Vladimir Putin.

- Estátua protegida com sacos de areia -As freiras cobriram uma estátua do santo no pátio interno da comunidade com sacos de areia para protegê-la dos bombardeios.

"Foi construída no ano passado para o 125º aniversário de seu nascimento", explicou a irmã Anastasia.

As freiras não são as únicas que ficaram. Entre os civis que não fugiram está Tuliï, um desempregado de 42 anos que vive na cidade vizinha de Krestyshche com sua esposa e filhos.

"Já não conto, há explosões o tempo todo", diz ele, referindo-se aos tiros de ambos os lados da linha de frente, enquanto observa o céu.

Ele não tem intenção de se juntar à avalanche de refugiados e deslocados. "Aqui estou eu em minha casa", diz.

ele.am/dth/ob/meb/eg/jc