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Ao reduzir produção de petróleo, Opep+ dá tapa com luva de pelica em Biden

05/10/2022 17h45

A aliança petrolífera Opep+ deu, nesta quarta-feira (5), um tapa com luva de pelica em Joe Biden, ao anunciar uma forte redução da produção de petróleo, ignorando os esforços do presidente americano para isolar a Rússia em meio à guerra na Ucrânia e suas tentativas de conter a alta dos preços do combustível antes das eleições de meio de mandato nos Estados Unidos, em novembro.

"O presidente está desapontado com a decisão míope da Opep+", disseram em comunicado o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, e o principal conselheiro econômico de Biden, Brian Deese.

Biden vem tentando há meses reduzir o preço do combustível para os americanos e, ao mesmo tempo, reduzir a capacidade da Rússia de exportar petróleo, para que tenha menos receita para financiar sua guerra contra a Ucrânia.

A cinco semanas das eleições de meio de mandato, nas quais os democratas tentarão manter o controle do Congresso, Biden parecia estar alcançando seus objetivos.

O preço médio da gasolina caiu mais de um dólar por galão depois de sofrer altas recordes no início deste ano, enquanto a coalizão ocidental liderada por Washington continua unida contra a Rússia, apesar da aproximação do inverno e, consequentemente, do frio, que representa uma maior necessidade de combustível.

Nesse cenário, a decisão da Opep, liderada pela Arábia Saudita, e do conjunto de aliados dominados pela Rússia, conhecidos coletivamente como Opep+, representa uma ducha de água fria nas pretensões de Washington.

A Arábia Saudita é um dos aliados mais próximos dos Estados Unidos e o maior comprador individual de armas americanas em grande escala.

O próprio Biden viajou em julho ao país, onde se reuniu com o líder de fato, o príncipe herdeiro Mohamed bin Salman, que, segundo os serviços de inteligência americanos, aprovou o assassinato em 2018 do jornalista do Washington Post Jamal Khashoggi.

A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, refletiu a frustração do governo.

"Está claro que a Opep+ está alinhada com a Rússia com esse anúncio de hoje", disse.

O senador Chris Murphy, aliado de Biden, foi ainda mais direto. 

"Pensei que o objetivo de vender armas para os Estados do Golfo, apesar de seus abusos de direitos humanos, da guerra absurda no Iêmen, do fato de que eles trabalham contra os interesses americanos na Líbia, Sudão etc., era que no momento de uma crise internacional, o Golfo escolheria os EUA sobre a Rússia/China", tuitou.

- Controle sobre os preços -

A alta dos preços do combustível já prejudicou politicamente Biden este ano, mas o presidente democrata vê como limitada sua capacidade de combatê-la.

A Casa Branca anunciou que, para amortizar o aumento dos preços, os Estados unidos "colocarão no mercado no próximo mês 10 milhões de barris" de petróleo da Reserva Estratégica do país.

Mas essas reservas estão se esgotando rapidamente após as retiradas recorde ordenadas pelo governo desde março, ao ponto de atingirem seu nível mais baixo desde julho de 1984.

De acordo com o comunicado, Biden orientou o Departamento de Energia a "examinar qualquer outra ação responsável por continuar aumentando a produção doméstica". O governo "consultará o Congresso sobre ferramentas e mecanismos adicionais para reduzir o controle da Opep sobre os preços da energia".

Mas Andy Lipow, da Lipow Oil Associates, acredita que a decisão da aliança petrolífera demonstra "a diminuição da influência dos Estados Unidos na Opep para manter um suprimento adequado de petróleo".

"Os Estados Unidos não podem usar suas reservas estratégicas indefinidamente", continuou Lipow. "Elas vão acabar se esgotando, e a Opep sabe disso. É preciso ter um plano, mas o governo americano não se adaptou".

Segundo Lipow, a única solução é extrair mais petróleo nos Estados Unidos.

Isso, contudo, iria contra as prioridades climáticas de Biden e seus esforços para afastar o país do petróleo e do gás e aproximá-lo das energias limpas.

"O anúncio de hoje é um lembrete de por que é tão importante que os Estados Unidos reduzam sua dependência de fontes estrangeiras de combustíveis fósseis", disse a Casa Branca.

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© Agence France-Presse