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Marcas dos protestos continuam fortes em Santiago, três anos após distúrbios

17/10/2022 13h18

Fachadas protegidas, lojas fechadas, grafites por todos os lados e um cheiro de gás lacrimogêneo que arde o nariz. Três anos depois, as marcas dos protestos sociais continuam presentes no centro de Santiago.

A Praça Baquedano também passou a ser conhecida como "Praça da Dignidade", após as manifestações que eclodiram em 18 de outubro de 2019 contra a desigualdade social.

Naquele dia, várias estações de metrô de Santiago foram atacadas e incendiadas, lojas, saqueadas, e manifestantes se confrontaram com policiais.

Hoje, poucas pessoas passam pelo local, onde várias lojas fecharam, e assaltos são frequentes.

"Nada mudou, tudo subiu", diz uma pichação no centro cultural Gabriela Mistral. "Não durma", diz outra.

- Preocupação -

No aniversário do início dos protestos, nesta terça-feira (18), muitos temem o retorno dos enfrentamentos com a polícia. Nos dois anos anteriores, "18 de outubro" foi marcado pela violência.

Mais de 25 mil agentes foram mobilizados no país, e a segurança, reforçada no entorno da praça, onde manifestantes devem se reunir mais uma vez. 

"Mais que assustado, estou preocupado", disse à AFP Juan Carlos González, proprietário de uma livraria na região.

Para manter sua loja aberta, além de reforçar a segurança, González precisou investir em vendas on-line. Ainda assim, ganha 40% menos do que há três anos.

"Me pergunto o que é que eles querem celebrar", acrescenta, referindo-se a uma comemoração que remonta, para ele, ao início de um dos períodos mais duros de sua vida. 

Não foram poucas as vezes que ele teve medo de que sua loja fosse saqueada, ou queimado, com ele e sua esposa dentro.

Em uma pequena galeria comercial próxima, cujo acesso se dá atravessando por uma reforçada estrutura de metal, algumas lojas de instrumentos musicais também resistem.

Embora a estrutura colocada impeça uma boa visão do lado de fora, em caso de protestos, permite-lhes fechar as portas rapidamente e evitar saques.

"Tem muita gente que vive com medo", afirma Juan Carlos Ortiz, gerente de uma delas, em entrevista à AFP.

Em junho, o Ministério da Economia apresentou um programa para reativar o comércio no epicentro dos protestos. O programa atendeu 50 bairros e 2.500 pequenas empresas afetadas.

"As pessoas que tiveram seus projetos de vida e negócios prejudicados não têm responsabilidade sobre a desigualdade e as tensões sociais que motivaram os distúrbios", disse o ministro Nicolás Grau.

Diante desse quadro, a prefeita de Providência, Evelyn Matthei, anunciou um plano de recuperação de fachadas e áreas verdes, com um investimento de US$ 4 milhões.

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© Agence France-Presse