Preocupação nos EUA por 'repressão' religiosa na Nicarágua
A "repressão" do governo de Daniel Ortega contra a Igreja Católica na Nicarágua, com a expulsão ou prisão de autoridades eclesiásticas, preocupa a Comissão dos Estados Unidos para a Liberdade Religiosa Internacional (USCIRF).
As relações bilaterais se deterioraram desde os protestos de 2018, que Ortega relaciona a um suposto golpe planejado pela oposição com o apoio de Washington.
"O regime de Ortega mostra um absoluto desdém pelas organizações religiosas", afirmou na terça-feira (15) o congressista republicano Mario Diaz-Balart durante uma audiência virtual organizada pela USCIRF, uma entidade bipartidária independente criada pelo Congresso dos Estados Unidos para monitorar, analisar e relatar ameaças à liberdade religiosa no exterior.
Este ano, o governo de Daniel Ortega e sua esposa e vice-presidente Rosario Murillo expulsaram o núncio Waldemar Sommertag, colocaram o bispo Rolando Álvarez em prisão domiciliar e detiveram padres e seminaristas.
A associação Missões de Caridade, criada por Madre Teresa de Calcutá, foi ilegalizada e as religiosas tiveram que fugir do país, onde as procissões religiosas estão proibidas.
"A situação atual na Nicarágua é crítica e continuamos a usar todas as ferramentas diplomáticas e econômicas à nossa disposição para responsabilizá-los pelos abusos cometidos", disse Patrick Ventrell, diretor do escritório de assuntos centro-americanos no Departamento de Estado.
Washington proibiu a entrada de centenas de nicaraguenses e sancionou a indústria do ouro, por meio da qual o governo Ortega retira importantes receitas.
Mas, de acordo com Ventrell, ao mesmo tempo o governo Joe Biden mantém "canais de comunicação abertos" e "continua disposto a se envolver em negociações diplomáticas".
Manuel Orozco, diretor do Programa de Migração, Remessas e Desenvolvimento do Diálogo Interamericano, lembrou que a hostilidade de Ortega com a Igreja Católica não é novidade.
"O que mudou hoje é a obsessão pelo poder", estima. Há mais de 200 presos políticos sob "falsas acusações" e quase meio milhão de pessoas emigraram nos últimos dois anos, acrescenta.
Para Irela Guevara, diretora da ONG Outreach Aid to the Americas, a maior mudança é que o governo lançou um mecanismo para agir contra a Igreja, "sob a falsa declaração de que é terrorista".
Em setembro, Ortega afirmou que a Igreja Católica é uma "ditadura" por não permitir que os católicos elegessem o papa, e chamou os bispos e padres de "assassinos" e "golpistas" por terem apoiado, segundo ele, os protestos em 2018.
"A intenção por trás desses ataques é clara", aponta Christopher Ljungquist, conselheiro para a América Latina no Escritório de Justiça e Paz Internacional da Conferência Episcopal dos Estados Unidos.
"O regime pretende aterrorizar a Igreja, que é hoje a última instituição independente da sociedade civil. Silenciá-la por meio da violência, do terror e do assédio institucional", declarou.
Para enfrentar a "repressão", os participantes propõem a aplicação integral da Lei RENACER, que prevê o aumento de sanções, fiscaliza empréstimos de instituições financeiras e revê a participação do país no acordo de livre comércio entre Estados Unidos, América Central e República Dominicana República (CAFTA-DR).
A Nicarágua é um dos lugares mais perigosos do mundo para ser cristão, assegurou a deputada republicana María Elvira Salazar, que pede ao Fundo Monetário Internacional (FMI), ao Banco Mundial e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) a suspensão de todas as empréstimos ao governo para "cortar o oxigênio".
E lembrou a Ortega e Rosario Murillo que "a Igreja Católica sobreviveu a todos os reis, todos os impérios e todos os ditadores que já existiram".
erl/ag/yow/mr
© Agence France-Presse
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