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Jiang Zemin, o arquiteto do retorno da China ao cenário internacional

30/11/2022 08h54

O ex-presidente chinês Jiang Zemin, que faleceu nesta quarta-feira (30) aos 96 anos, chegou ao poder depois da repressão dos protestos da Praça Tiananmen (Paz Celestial) em 1989 e durante seu mandato conseguiu projetar a China no cenário internacional. 

Sua ascensão até o comando do gigante asiático foi estimulada pelo ex-líder Deng Xiaoping, que escolheu este engenheiro eletricista, fã de música clássica e pianista amador, como seu sucessor.

Durante seu mandato ele transformou o país em um peso pesado nas áreas comercial, militar e política. 

Na China, a população gostava de fazer piadas, mas não de forma maliciosa, a respeito de Zemin, conhecido por sua sinceridade, forma de andar e pelas diversas expressões faciais.

No poder, aparentemente não mudou sua personalidade nem estilo de trabalho. Ele sempre usou um modelo de óculos considerado antiquado por muitos, mas que virou sua marca registrada ao redor do mundo.

Quando assumiu em 1989 o posto de secretário-geral do Partido Comunista da China, ele foi considerado um líder de transição pelos analistas. Mas o então dirigente do partido em Xangai surpreendeu a todos e permaneceu 13 anos no comando da formação (1989-2002) e uma década como chefe de Estado (1993-2003), sem fazer inimigos ou rivais.

Pai de dois filhos, esbanjava espontaneidade, às vezes dançando valsa ou cantando durante suas viagens ao exterior. Mais importante, porém, ele consolidou seu nome como o símbolo do sucesso de seu país no cenário internacional, tanto na esfera econômica como na diplomática.

- Cortar pela raiz -

Jiang Zemin era parte da "terceira geração" de líderes da República Popular da China, depois dos grupos do fundador Mao Tsé-Tung e do reformista Deng Xiaoping.

Deng o convocou para assumir o poder em junho de 1989, impressionado com a maneira como Jiang Zemin encerrou de maneira pacífica os protestos em Xangai, em contraste com o banho de sangue da repressão em Pequim. 

Em seu mandato, a China deixou de ser um Estado pária nos anos posteriores à repressão da Praça da Paz Celestial e entrou em 2001 para a Organização Mundial do Comércio (OMC). No mesmo ano conquistou o direito de organizar os Jogos Olímpicos de 2008.

Além disso, neste período, a população registrou um avanço histórico do nível de vida.

Com Jiang no poder, a abertura da China foi acelerada e as reformas econômicas aprofundadas, sempre com o Partido Comunista à frente.

Marcado pelas manifestações de 1989, Jiang Zemin evitou qualquer flexibilização na política de segurança e em 1998 prometeu "cortar pela raiz qualquer fator de desestabilização". 

A imprensa permaneceu sob rígida subserviência ao partido no poder e os dissidentes receberam duras penas de prisão. Alguns, depois do período em detenção, foram enviados para o exílio.

- "Memes" na internet -

Seu plano de reformas avançou sem enfrentar qualquer oposição organizada. 

Ao longo do caminho isto provocou o fechamento de fábricas não lucrativas, além de desigualdades sociais flagrantes, corrupção e destruição do meio ambiente.

Jiang deixou seu último cargo oficial em 2004-2005, quando cedeu a presidência da influente Comissão Militar a seu sucessor, Hu Jintao. 

Muitos analistas, porém, destacam que ele continuou exercendo influência no aparato comunista, inclusive durante o mandato do atual presidente Xi Jinping.

Um sinal de sua popularidade: na internet diversos "memes" recordam alguns de seus discursos memoráveis.

Um dos momentos mais mais lembrados aconteceu durante um longo discurso do atual presidente Xi Jinping em um congresso do Partido Comunista em 2017, quando Jiang Zemin deleitou a audiência na internet ao olhar sem qualquer constrangimento para seu relógio em diversas ocasiões. 

Sua morte foi anunciada por engano em 2011 pela imprensa de Hong Kong e do exterior depois que ele não compareceu às comemorações de 90 anos do Partido Comunistas. A agência estatal Xinhua se viu obrigada a publicar um desmentido.  

Desde então, os boatos nas redes sociais, em particular no exterior, eram recorrentes sobre a morte de Zemin.

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© Agence France-Presse