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A ameaça jihadista na Espanha, menos visível mas persistente

26/01/2023 14h48

O ataque a duas igrejas na quarta-feira (25) fez os temores pela ameaça jihadista ressurgirem na Espanha, que, nos últimos tempos, sofreu poucos atentados em comparação com seus vizinhos, e menos mortais que os anteriores, segundo especialistas.

Carlos Igualada, diretor do Observatório Internacional de Estudos sobre Terrorismo (OIET), acredita que "são ações pontuais e não haverá uma campanha de atentados como aconteceu anos atrás", explicou à AFP.

"Desde o fim de 2017, o número de ações terroristas na Europa caiu consideravelmente e os ataques que estão acontecendo são de baixa letalidade, com armas brancas e nos quais apenas há a participação de um terrorista", acrescentou.

Então, prosseguiu Igualada, os atentados de agora estão longe daqueles "como os de Paris, ou os de Nice, Berlim e Bruxelas, onde foram contabilizadas dezenas de mortos".

Nesta quarta, um cidadão marroquino de 25 anos atacou duas igrejas na cidade de Algeciras, na Andaluzia (sul), matando um sacristão e ferindo um padre.

O governo não caracteriza essa ação como jihadista, mas a Audiência Nacional, instância competente em matéria de terrorismo, assumiu as investigações.

"Todos os elementos que caracterizam e identificam a metodologia jihadista estão presentes neste sujeito, há indícios 'a priori' bastante consolidados", avaliou Chema Gil, professor do Centro Universitário ISEN de Cartagena e codiretor do Observatório Internacional de Segurança, em declarações à rádio pública RNE.

Se é o que se conhece como "um lobo solitário ou não, isso deverá ser determinado pelas investigações", acrescentou.

- Longe dos anos mais sangrentos -

Para trás ficam os atentados contra vários trens suburbanos de Madri em 2004, os ataques mais mortais já vivenciados na Europa, que deixaram 191 mortos e cerca de 2000 feridos. Ou os últimos grandes atentados na Espanha, na Catalunha em 2017, com 16 mortos e 140 feridos.

Se em 2004 a ameaça jihadista coexistia com a da organização armada basca ETA, que anunciou a deposição das armas em 2011 e sua dissolução sete anos mais tarde, agora a atividade policial tem se concentrado principalmente no islamismo radical.

O último Plano de Prevenção, Proteção e Resposta Antiterrorista (PPPyRA, na sigla em espanhol), que orienta a estratégia neste aspecto, é de 2022. Em sua apresentação, o ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, citou como um grande perigo, segundo um comunicado do governo, "os modernos processos de radicalização rumo a diferentes tipos de extremismo violento, em particular o de caráter jihadista".

Desde 2004, as autoridades prenderam quase 1.000 suspeitos de jihadismo na Espanha, segundo dados do Ministério do Interior. Em 2021, de acordo com o último relatório da Europol sobre terrorismo no continente, a Espanha deteve 40 e a França 140.

"É correto que na Espanha não tivemos esta frequência de atentados individuais como os ocorridos na França, na Alemanha e no Reino Unido", explicou à AFP Manuel Ricardo Torres, professor de Ciência Política na Universidade Olavide de Sevilha.

- Colaboração com Marrocos -

A normalização das relações com o Marrocos em 2022, depois de um período de dificuldade por causa da posição espanhola sobre o território do Saara Ocidental, cuja soberania é reivindicada por Rabat, também teve um papel na relativa tranquilidade vivida na Espanha nos últimos anos.

"A cooperação com o Marrocos no âmbito antiterrorista atualmente é muito boa", opinou o professor Torres.

"Isso permitiu alimentar muitas operações antiterroristas que se realizam a partir de informações fornecidas pelo Marrocos", acrescentou.

Na última grande operação conjunta, em outubro de 2022, a polícia espanhola deteve 11 pessoas em seu território e a marroquina dois no seu, por "suposta participação nos crimes relacionados ao fato de pertencer a um grupo terrorista", segundo o Ministério do Interior espanhol.

al-vab/mg/mb/rpr/mvv

© Agence France-Presse

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