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Nascidas em tempos de guerra, crianças sírias ficam órfãs após terremoto

Tremor que devastou regiões inteiras da Síria e da Turquia em 6 de fevereiro, com um balanço de 40.000 mortos, deixou muitos órfãos. - REUTERS TV/via REUTERS TPX IMAGES OF THE DAY
Tremor que devastou regiões inteiras da Síria e da Turquia em 6 de fevereiro, com um balanço de 40.000 mortos, deixou muitos órfãos. Imagem: REUTERS TV/via REUTERS TPX IMAGES OF THE DAY

15/02/2023 11h12

Em um hospital no noroeste da Síria, Hanaa, de oito anos, pergunta sobre seus pais e irmã todos os dias. Ela ainda não sabe que é a única da família que sobreviveu ao terremoto.

O terremoto que devastou regiões inteiras da Síria e da Turquia em 6 de fevereiro, com um balanço de 40.000 mortos, deixou muitos órfãos.

Diante de um número de vítimas que não para de aumentar, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) teme um "número assustador" de crianças que perderam os pais.

Hanaa foi resgatada dos escombros 33 horas após o terremoto na cidade de Harim, perto da fronteira com a Turquia, onde o prédio onde ela morava com sua família desabou.

"Tentamos salvar seu pai, um socorrista, sua mãe e sua irmã, mas todos morreram", disse Abdallah Charif, tio da menina, no hospital vizinho Maarrat Misrine, onde ela foi internada.

"Ele pede constantemente notícias do pai, da mãe e da irmã" Waad, de quatro anos.

"Não tivemos coragem de dizer a verdade. Respondemos que estão em outra seção do hospital", acrescenta.

Em sua cama de hospital, cercada por balões do dia dos namorados, a garota de olhos claros tenta sorrir, apesar dos ferimentos no rosto e do gesso na mão.

Bassel Stefi, o médico que cuida dela, explica que ela chegou em estado crítico.

"Ela estava desidratada depois de mais de 30 horas sob os escombros sem comer ou beber neste frio. Agora ela está na unidade de terapia intensiva, seu quadro é estável, mas corre o risco de ter um braço amputado", diz ela.

O tio de Hanaa teme que o estado da menina piore se souber da morte de seus parentes e prefere recorrer a especialistas para dar a notícia.

"As crianças estão expostas a sérios riscos psicológicos devido à intensidade do choque", disse à AFP Samah Hadid, funcionário do Conselho Norueguês para Refugiados do Oriente Médio.

Hanaa só tem seus avós e tios para criá-la nesta região sob controle rebelde, onde grande parte da população se deslocou de outras áreas devastadas pela guerra na Síria.

"Seu pai o abraçava"

Segundo a Unicef, mais de sete milhões de crianças foram afetadas pelo terremoto nos dois países, das quais 2,5 milhões vivem na Síria.

Para muitas, "é um trauma somado a outros traumas", disse à AFP James Elder, porta-voz do Unicef.

"Toda criança com menos de 12 anos só conhece conflito, violência e deslocamento" na Síria, acrescenta.

Na mesma cidade de Harim, onde cerca de 35 construções não resistiram ao terremoto, o pequeno Arslan Berri, de 3 anos, foi o único que sobreviveu ao desabamento de sua casa.

"A casa onde minha irmã morava desabou. Passamos três dias cavando, encontramos seu pai sem vida abraçado e segurando seus outros dois filhos pela mão", conta seu tio Ezzat Hamidi, 30.

A mãe dele foi encontrada a cerca de dois metros de distância, segundo este familiar.

"Meu sobrinho perdeu a mãe, a irmã e os dois irmãos. Ele corre o risco de ter as pernas amputadas", acrescenta o jovem, que vai de hospital em hospital com o menino em estado de choque para receber os cuidados necessários.

"Os membros inferiores da criança foram esmagados" pelos escombros, explica o Dr. Omar al-Ali, do Sarmada Children's Hospital, acrescentando que órgãos internos também foram afetados.

"Salvamos muitas crianças que ainda estão vivas, mas também há outras mortas", disse à AFP Obada Zikra, oficial dos Capacetes Brancos, que lideram as operações de resgate em áreas rebeldes na Síria.

Entre eles estava um recém-nascido, ainda ligado à mãe morta pelo cordão umbilical e que perdeu todos os familiares em um prédio em Jandairis, perto da fronteira com a Turquia.

"Sentimos uma grande alegria cada vez que resgatamos uma criança viva", acrescenta o socorrista.

"Mas esperamos que as crianças de nossa região, que só conheceram bombardeios e deslocamentos e nunca desfrutaram de estabilidade, possam crescer como as outras crianças do mundo e ir à escola", conclui.

ohk-aya/at/sba/mar/zm/jc

© Agence France-Presse