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Grécia admite 'fracasso' e indignação aumenta após colisão de trens

A colisão de trens foi perto da cidade de Larissa, na Grécia - Kostas Mantziaris/Reuters
A colisão de trens foi perto da cidade de Larissa, na Grécia Imagem: Kostas Mantziaris/Reuters

02/03/2023 11h29

O governo da Grécia admitiu, nesta quinta-feira (2), "décadas de fracassos" que levaram ao acidente ferroviário que deixou 48 mortos na cidade de Lárissa, o que aumentou ainda mais a indignação e os protestos pela tragédia. 

Apontado como responsável pela tragédia, o diretor da estação ferroviária de Lárissa(centro) foi detido na quarta-feira e será acusado de homicídio culposo e lesão corporal, depois que as autoridades atribuíram o ocorrido a um "erro humano".

O homem de 59 anos pode ser condenado à prisão perpétua pelo acidente que ocorreu à meia-noite de terça-feira.

O funcionário, que estava em serviço no momento do acidente, terá de explicar como um trem de passageiros e um trem de carga circularam por vários quilômetros na mesma via, mas em sentidos opostos.

O porta-voz do governo, Yiannis Economou, disse que a investigação vai analisar "atrasos na execução de trabalhos ferroviários provocados pelas deficiências crônicas do setor público e décadas de fracassos". 

Cinco anos depois da privatização da empresa ferroviária Hellenic Train, que foi vendida para o grupo italiano Ferrovie dello Statto (FS), os sistemas de segurança ainda não foram automatizados.

O governo decretou três dias de luto nacional, e o ministro dos Transportes pediu demissão horas depois do acidente.

Os sindicatos ferroviários afirmam que as falhas na linha que liga Atenas a Tessalônica são conhecidas há muitos anos. 

Uma porta-voz do corpo de bombeiros afirmou que as equipes de resgate trabalharam durante toda a noite em busca de sobreviventes, mas as possibilidades de encontrar alguém são cada vez menores.

"O tempo não está do nosso lado", admitiu. 

O primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis anunciou uma investigação profunda sobre a tragédia.

"Tudo indica que, lamentavelmente, o acidente foi provocado por um trágico erro humano", declarou Mitsotakis. 

Após a colisão, dois vagões ficaram esmagados, e um terceiro pegou fogo com as pessoas bloqueadas dentro.

Os sobreviventes descreveram cenas de horror e de caos. Eles precisaram passar por vidros quebrados e destroços, quando o trem virou, e quebraram as janelas para sair dos vagões.

Integrantes das equipes de emergência afirmaram que nunca haviam testemunhado uma tragédia de tal magnitude. O vagão-restaurante do trem sofreu um incêndio e a temperatura interna atingiu 1.300°C, segundo os bombeiros. 

Horas depois da tragédia não era possível ter certeza de quantas pessoas estavam a bordo, o que dificulta os esforços para determinar o número de desaparecidos. 

Roubini Leontari, legista do hospital de Lárissa, disse ao canal ERT que ainda há dez pessoas desaparecidas, incluindo dois cidadãos do Chipre. 

"Era um trem lotado de estudantes, de jovens na casa dos 20 anos", declarou Costas Bargiotas, médico do hospital de Lárissa. "É realmente impactante ver os vagões amassados como se fossem de papel", acrescentou.

Muitos cadáveres ficaram carbonizados, e alguns passageiros foram identificados por partes de seus corpos, com base em amostras coletadas entre parentes. 

- Protestos -

Um protesto violento foi registrado do lado de fora da sede da Hellenic Train na quarta-feira. A polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes. 

Em Lárissa, os moradores organizaram uma vigília com flores para recordar as vítimas.

Nikos Savva, estudante de Medicina do Chipre, declarou à AFP que a tragédia era uma questão de tempo. 

"A rede ferroviária parecia problemática, estava desgastada, com funcionários mal remunerados", disse.

A confederação que reúne todos os sindicatos ferroviários convocou uma greve de 24 horas nesta quinta-feira para denunciar "a falta de respeito do governo" para com o seu setor, que viu rejeitadas as suas reivindicações. 

Os funcionários do metrô de Atenas também indicaram que interromperiam o serviço por várias horas.

Os hospitais em Lárissa, Tessalônica e Katerini receberam dezenas de feridos e centenas de pessoas compareceram para doar sangue. 

A tragédia também pode ter consequências políticas, pois o primeiro-ministro deve convocar eleições para abril e tentar a reeleição. 

bur-yap/pz/mas-an/mb/fp/jc

© Agence France-Presse