Boric completa um ano no poder com sinais de ter controlado as rédeas do país
Gabriel Boric completa um ano à frente do governo chileno, período em que conseguiu, com forte revés no Congresso após a rejeição de sua reforma tributária, normalizar a vida no país depois de três anos de atritos e incertezas.
Às vésperas do primeiro aniversário, quando comemorava melhores números da inflação, Boric recebeu um duro golpe: a Câmara dos Deputados rejeitou a reforma tributária que buscava financiar seu ambicioso plano de reformas sociais.
Pilar de seu programa de governo, a reforma buscou arrecadar o equivalente a 3,6 pontos adicionais do PIB, com novos impostos para mineradores e pessoas com renda mais alta.
"Quando o país começa a dar sinais de recuperação, quando começamos a nos antecipar a uma longa crise, novamente há um setor que tenta fazer com que as coisas não mudem, deixar as coisas como estão", criticou o presidente na noite de quarta-feira (8).
Agora ele deve se recuperar do golpe, como o fez seis meses após sua chegada ao poder, quando enfrentou a rejeição de uma nova Constituição para substituir a herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1990-1973), projeto com o qual o governo havia concordado.
"Quero convidar essa fratura a não nos dominar e a superá-la. Quero que saibam que ocuparei toda a minha liderança e colocarei todo o nosso governo para trabalhar para construir uma maioria que torne possível essa reforma", disse Boric após a votação dos deputados.
Foi um início marcado pela expectativa de sua posse, erros ingênuos, inexperiência de uma nova geração política que emergiu das passeatas estudantis da última década, o mandatário se concentrou em lidar com turbulências econômicas, problemas de segurança e uma migração com pouco controle, bem como lidar com uma minoria oficial no Parlamento.
- Recuperação nas pesquisas -
Como resultado, conseguiu aumentar sua popularidade. Duas pesquisas mostram melhora na aprovação presidencial: 35% segundo a Cadem, o melhor resultado desde setembro passado; e 39%, segundo a Criteria, o melhor nível desde que Boric assumiu o cargo, o que reflete o apoio à sua reação à catástrofe dos incêndios florestais, melhores resultados na segurança e números econômicos animadores.
"Ao contrário do que se esperava, com Boric a imperatividade do Estado foi recuperada. Isso é observado na gestão da economia. Ele estabeleceu uma disciplina fiscal que não se via há 12 anos e por isso os resultados são muito positivos", disse à AFP o sociólogo e analista político Eugenio Tironi.
Apesar da resistência tradicional da esquerda, Boric ordenou o envio das Forças Armadas, ao sul e ao norte, para enfrentar questões como migração irregular, criminalidade e ações violentas de grupos mapuches.
Há dois pilares fundamentais no gabinete: Carolina Tohá (57), ministra do Interior, que entrou para o governo com a reforma ministerial após a rejeição ao projeto de Constituição; e Mario Marcel (63), titular da pasta da Fazenda.
Ambos fazem parte de uma geração política mais antiga que a de Boric, e não são membros da Frente Ampla do governante, mas integram o chamado socialismo democrático.
"Sem dúvida o presidente teve grandes lições e isso se manifesta em quem hoje faz parte de seu gabinete político, quem são os que governam com ele (...). Mas os golpes que o governo tem recebido, como o plebiscito de setembro, os erros(...) levantam dúvidas sobre o quanto ele realmente aprendeu", diz Magdalena Vergara, diretora do centro de estudos conservador Idea País.
- Crises -
A crise dos incêndios florestais no centro-sul do Chile, que consumiu 439 mil hectares e deixou 26 mortos, representou um novo desafio para o governo de Boric.
Ele optou pela rápida declaração do estado de calamidade, pelo envio permanente dos ministros na área afetada, pela suspensão das férias do presidente e sua presença no terreno.
Boric também permitiu que o Congresso ratificasse a entrada do país no Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica (CPTPP), em sua sigla em inglês), ao qual se opôs quando era deputado.
Na política externa, não temeu ser tachado de "esquerda covarde", como disse o venezuelano Nicolás Maduro, depois de acusar diretamente o nicaraguense Daniel Ortega de ser um "ditador".
"A questão geracional pode ser relevante para explicar as diferenças de postura entre Boric e seus colegas da esquerda latino-americana. Em geral, os millennials não carregam a bagagem ideológica de líderes mais tradicionais da esquerda", disse Michael Shifter, ex-presidente do centro de estudos Diálogo Interamericano, com sede em Washington.
ps/pa/yow/jc/yr
© Agence France-Presse
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