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'Crises sobrepostas' ofuscam panorama econômico da AL, diz presidente do BID

18/03/2023 14h52

O novo presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o brasileiro de origem israelense Ilan Goldfajn, disse neste sábado (18), diante das maiores autoridades financeiras das nações da América Latina e do Caribe, que as perspectivas econômicas da região estão ofuscadas por "crises sobrepostas".

Goldfajn lidera a assembleia anual do BID, da qual participam responsáveis dos 48 países-membros do Banco, em sua maioria ministros da Fazenda, após uma semana difícil para o sistema bancário dos Estados Unidos e Europa.

"As perspectivas futuras [da região] são afetadas pelas consequências das crises sobrepostas que enfrentamos: da pandemia [de covid-19] à invasão russa da Ucrânia, com dívidas mais altas e inflação recorde, insegurança alimentar e energética e, é claro, a crise climática", destacou o chefe do BID, que não mencionou as turbulências no setor bancário.

"É de vital importância que hoje pensemos nesses desafios que vão além dos países individualmente, são problemas regionais e globais", acrescentou o economista em seu discurso.

A assembleia do BID terminará neste domingo com a divulgação de um relatório macroeconômico com dados e previsões para a região.

O encontro começou na quinta-feira com debates entre autoridades, empresários e especialistas, em meio a inquietações após a falência de três bancos nos EUA, incluindo o Silicon Valley Bank, bem como dificuldades no First Republic e no Credit Suisse, cujas ações despencaram.

Nesses fóruns, não foi abordada a situação do sistema bancário, mas Goldfajn antecipou que os temas de "conjuntura" serão discutidos pelos governadores do BID em suas deliberações a portas fechadas.

Goldfajn disse que "os governos devem superar as pragas históricas da pobreza e da desigualdade, aumentar a produtividade e acelerar o crescimento, enquanto enfrentam eventos climáticos mais frequentes, e com recursos escassos".

"Nada disso é fácil", ressaltou Goldfajn, que assumiu o BID há dois meses. "Os desafios que enfrentamos não foram criados da noite para o dia e não os resolveremos em um dia. Mas [...] com paciência e persistência, podemos alcançar um progresso impressionante", acrescentou.

- "Contágio pode ser rápido" -

Existe a preocupação de que essa turbulência possa afetar a América Latina e o Caribe, já que o colapso de três bancos em menos de uma semana nos Estados Unidos marca as piores falências desde a crise financeira de 2008. 

"É preciso estar atento, porque nos mercados financeiros o contágio pode ser muito rápido", disse à AFP o ministro chileno das Finanças, Mario Marcel. 

"As reações do mercado podem chegar aos nossos países. De fato, os preços das matérias-primas nos últimos dias estiveram caindo e, quando as matérias-primas caem, isso desvaloriza nossas próprias moedas", acrescentou. 

Marcel explicou que "na medida em que as intervenções dos bancos centrais forem eficazes, isso pode ir mudando, mas desde que não apareçam outros tipos de situações complexas". 

- "Projeto regional amazônico" -

Além disso, Goldfajn liderou uma reunião com ministros de países amazônicos e doadores para buscar formas de financiar programas de conservação nessa região.

"É hora de aumentar a ambição, até o nível que a Amazônia exige", declarou o titular do BID nessa reunião, segundo um comunicado da instituição. 

"Temos que colaborar com todos os países vizinhos, atuando como um integrador regional para a Amazônia, e confiamos no BID para isso", disse a ministra do Planejamento e Orçamento do Brasil e governadora do BID, Simone Tebet, citada no comunicado. 

Criado em 1959 e com sede em Washington, o BID é uma das principais fontes de financiamento de longo prazo para a região e, nessa assembleia, alguns países assinaram contratos de crédito com o Banco. 

O Chile assinou um empréstimo de US$ 1 bilhão para créditos a pequenas e médias empresas, e Honduras outro de US$ 75 milhões para programas de combate à pobreza. 

Por sua vez, o presidente Cortizo agradeceu o apoio do BID ao Panamá e expressou sua confiança de que as decisões adotadas nesta assembleia "serão benéficas" para os países da região.

Participa ainda do encontro o candidato indicado pelo presidente dos EUA, Joe Biden, para dirigir o Banco Mundial, Ajay Banga, que acaba de chegar por uma viagem pela África e Europa. Tradicionalmente, o candidato indicado por Washington se torna o novo presidente do Banco Mundial.

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© Agence France-Presse