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Protestos contra a reforma da Previdência tomam a França no 1º de Maio

01/05/2023 06h20

A França viveu, nesta segunda-feira, um 1º de maio de protestos contra a reforma da Previdência em um contexto de inquietação com a inflação, que tem provocado greves e protestos em todo o mundo nos últimos meses.

"É um grande 1º de maio. Não é o fim da luta, é o protesto do mundo do trabalho contra esta reforma", disse o líder do sindicato CFDT, Laurent Berger, no começo do protesto, em Paris, por ocasião do Dia Internacional do Trabalhador.

Como ocorre desde 16 de março, quando o presidente Emmanuel Macron decidiu adotar por decreto sua reforma que adia a idade da aposentadoria de 62 para 64 anos em 2030, os protestos registraram confrontos entre a polícia e manifestantes radicais em Paris e em outras cidades.

Desde o começo do conflito social, em janeiro, a segunda economia da União Europeia (UE) tornou-se o centro das atenções do mundo. Nesta segunda, representantes sindicais de Coreia, Turquia, Colômbia e Espanha, entre outros, estavam presentes em Paris.

"Não se trata de preservar as aposentadorias na França, mas em todo o mundo. As pessoas deveriam poder se aposentar dignamente", disse David Huerta, de 56 anos, representante do sindicato americano do setor de serviços.

policias caminham com homem - Benoit Tessier/Reuters - Benoit Tessier/Reuters
Policiais caminham com homem ferido durante protesto na tradicional marcha trabalhista do 1º de Maio, na França
Imagem: Benoit Tessier/Reuters

A reforma da Previdência na França pôs em questão a importância do trabalho na vida dos cidadãos, após a pandemia de covid-19 e os confinamentos decorrentes da crise sanitária, e em plena inquietação com o aquecimento global e suas consequências.

"Mesmo com 5% [de aumento salarial], é complicado. Se os preços estivessem nesse nível, talvez seria possível continuar vivendo, mas subiram muito mais", disse Runold Jacobskötter, um aposentado de 67 anos, durante protesto, nesta segunda, em Berlim.

"A covid foi uma espécie de revelação e crise do trabalho, um questionamento ético sobre o peso do mesmo", resumiu o sociólogo Marc Loriol à rádio France Inter, em janeiro, dias depois do início dos protestos na França.

Nesta segunda, ambientalistas atiraram tinta na fachada da Fundação Louis Vuitton e na sede do Ministério da Justiça francês, na célebre praça Vendôme, para denunciar, neste último caso, uma "lei [da Previdência] 'climaticida'".

Mas a isto somaram-se as preocupações em nível global com a perda do poder aquisitivo, diante do aumento de preços dos alimentos e da energia, provocado pela invasão russa à Ucrânia, em fevereiro de 2022.

O Reino Unido, onde a inflação passa dos 10%, vive, por exemplo, uma onda de mobilizações sociais pedindo aumento de salários.

Esta reivindicação também esteve presente nas manifestações celebradas na Europa, de Portugal à Grécia, passando pela Espanha.

carros são incendiados - Loic Venance/AFP - Loic Venance/AFP
Carros são incendiados durante manifestação de 1º de Maio na França
Imagem: Loic Venance/AFP

"Macron, demissão!"

Na França, os sindicatos estão decididos a prosseguir na luta contra uma reforma "injusta" que, avaliam, penaliza as mulheres que interromperam suas carreiras para cuidar dos filhos e aqueles que começaram a trabalhar muito jovens.

Os protestos deste 1º de maio reuniram entre 782.000 e 2,3 milhões de pessoas, segundo as autoridades e o sindicato CGT, respectivamente, embora não tenham alcançado o nível de mobilização do começo de março.

No total, 108 membros das forças de segurança ficaram feridos, disse o ministro do Interior, Gerald Darmanin.

Outras 291 pessoas foram detidas no país, 90 delas em Paris.

A primeira-ministra Élisabeth Borne descreveu as "cenas de violência à margem das manifestações" como "inaceitáveis".

A saída para a crise parece difícil. Os sindicatos esperam que o Conselho Constitucional valide na quarta-feira um pedido da oposição de esquerda para organizar um referendo que limite a idade da aposentadoria a 62 anos, após a rejeição a uma proposta similar.

Macron, que defende a reforma como uma forma de evitar um futuro déficit no caixa previdenciário, busca, por sua vez, relançar seu segundo mandato, até 2027. Mas em suas viagens pela França é recebido com panelaços e vaias.

"Macron, demissão!", dizia um enorme colete amarelo artesanal, que manifestantes penduraram na estátua que domina a praça da República, em Paris, de onde partiu a manifestação.

Um dos pontos do plano de Macron para superar o conflito é negociar uma melhora nas condições de trabalho, mas os sindicatos ainda não decidiram se vão participar juntos da reunião que a primeira-ministra, Élisabeth Borne, vai propor em breve.

A imposição da reforma deteriorou a confiança dos franceses em Macron e nas instituições, uma situação que, segundo pesquisas, beneficia a deputada de extrema direita Marine Le Pen, que reuniu apoiadores nesta segunda em Le Havre (noroeste).