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Ostensiva e imponente, a 'cultura narco' sobrevive na Colômbia

02/05/2023 12h41

Joias, carros luxuosos, guarda-costas e até um zoológico particular com hipopótamos: Pablo Escobar e seus parceiros impuseram uma estética machista e extravagante que sobreviveu ao desaparecimento dos grandes traficantes da Colômbia.

O narcotráfico é mais do que um negócio ilegal, cruel e milionário. Seu vasto impacto cultural é paradoxalmente resumido no prefixo narco: narcoestética, narconovela, narcomúsica.

"NarColombia", é como Omar Rincón, um dos acadêmicos que mais pesquisou sobre o fenômeno, abrevia ironicamente.

Apesar das campanhas oficiais para limpar a imagem do país, a influência do narcotráfico está presente na linguagem, na arquitetura e no entretenimento.

"Consumo, logo existo. Nada melhor para expressar o gosto e a ética capitalista do que o narcotráfico", acrescentou em declarações à AFP.

Uma atividade ilegal que representa de 2 a 3% do PIB da Colômbia, segundo estimativas da Comissão Global de Políticas sobre Drogas. A prática construiu uma estética "ostentadora, exagerada, grandiosa", embora de "mau gosto" para outros, apontam Rincón e outros acadêmicos em seu texto "NarColombia".

- Culto da masculinidade - 

Em 2005, o escritor Gustavo Bolívar escandalizou com seu romance "Sem tetas não há paraíso", a pavorosa história de mulheres pobres que aumentaram os seios para deslumbrar os bandidos.

A narcoestética "é sempre contada em tom masculino, na exibição da virilidade, na exibição do consumo (...) nunca poderia ter uma estética feminista, de empoderamento da mulher ou autonomia corporal", observa Rincón.

Mas para os "traquetos" (mafiosos) e seus bandidos, fortemente influenciados pela religião católica, a figura materna é sagrada até mesmo em Medellín, cidade natal de Escobar. 

Na década de 1980, os narcotraficantes adotaram como padroeira a Virgem de Sabaneta, conhecida como a "Virgem dos Assassinos", uma adoração amplamente documentada pelos acadêmicos e pela literatura.

- Séries, canções e hipopótamos -

Em dezembro de 1993, fugindo pelo telhado de uma modesta casa em Medellín, caiu o maior barão colombiano das drogas. 

Responsável por 3.000 homicídios em sua guerra aberta contra o Estado colombiano, Escobar morreu nas mãos da polícia em uma operação que contava com o apoio de agentes norte-americanos e dos inimigos do narcotraficante.

Quase três décadas após sua morte, Escobar sobrevive na cultura popular. 

Vários livros, filmes, séries e canções relembram o terror e o fascínio provocado por sua figura.

Das girafas ou elefantes e outros animais exóticos que introduziu ilegalmente em seu jardim zoológico privado - instalado na chamada Hacienda Nápoles -, os famosos hipopótamos sobrevivem até hoje. 

Eles continuaram se reproduzindo em um bom ritmo após o desaparecimento do mais famoso chefão da cocaína.

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© Agence France-Presse