Comunicado do G20 diz coisas definitivas sem definir as coisas
Lula esteve na primeira reunião do G20, em 2008. Nos útimos 12 meses, o grupo foi presidido pelo Brasil. "Dezesseis anos depois, constato com tristeza que o mundo está pior", disse. Ninguém tem direito ao pessimismo sob o sol radiante do Rio de Janeiro. Mas a declaração final dos chefes de Estado reunidos na cúpula carioca contém um belo conjunto de boas intenções natimortas. O comunicado diz coisas definitivas sem definir as coisas.
O texto repete que é preciso ampliar o financiamento da adaptação às mudanças climáticas, mas não diz de onde virá o dinheiro. Reitera o desejo de reformar a governança global sem especificar reformas em organismos multilaterais. Realça a importância de tributar os super-ricos, abstendo-se de assumir o compromisso de fazê-lo. Lamenta o sofrimento humano provocado pelas guerras na Ucrânia e em Gaza sem fazer uma mísera crítica à Russia e a Israel.
O Brasil fez o que estava ao seu alcance. Lula tirou bom proveito político da presidência temporária do G20. Emplacou uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza no mundo. Mas os fatos conspiram contra as boas intenções. E não é de hoje. A belíssima intenção de uma comunidade mundial gerida para a paz e a prosperidade começou com a Liga das Nações, depois da primeira grande guerra. Não resistiu às sucessivas desmoralizações das Nações Unidas.
Se o retorno de Donald Trump à Casa Branca serve para alguma coisa é para reforçar a percepção segundo a qual o nacionalismo do "meu país first" e a proliferação de valores anticivilizatórios tornam o mundo mais tribalizado. Pior: as tribos são cada vez mais ferozes. Visto do fundo do poço, o céu será sempre pequeno. Mesmo quando iluminado pelo sol do Rio de Janeiro.
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