Extrema direita vence eleições legislativas dos Países Baixos, segundo boca de urna

O partido de extrema direita e anti-islâmico de Geert Wilders venceu as eleições legislativas desta quarta-feira (22) nos Países Baixos, segundo pesquisas de boca de urna, o que representaria um terremoto político com efeitos para além das fronteiras do país.

O Partido pela Liberdade (PVV) obteria 35 cadeiras no Parlamento, segundo pesquisa da Ipsos, superando com folga a aliança de esquerda de Frans Timmermans, com 25 cadeiras, e do bloco de centro-direita VVD, com 24.

Mas a vitória eleitoral de Wilders, apelidado de "Trump neerlandês", não garante que ele conseguirá reunir o apoio necessário para formar uma coalizão ampla o suficiente para viabilizar um governo.

O PVV "já não pode mais ser ignorado", declarou Wilders diante de seus apoiadores eufóricos em Haia. "Convoco os partidos (...) Agora temos que buscar acordos entre nós".

"Os neerlandeses esperam que o povo possa recuperar seu país e que possamos garantir que o tsunami de solicitantes de asilo e imigração se reduza", acrescentou.

Se for confirmada nos resultados finais, a vitória de Wilders representará uma mudança brusca para a direita, que a União Europeia receberá com receio, já que o PVV prometeu um referendo sobre a permanência dos Países Baixos no bloco.

O ex-primeiro-ministro Mark Rutte, cuja renúncia desencadeou as eleições, desempenhou um papel importante em questões comunitárias como o resgate da zona do euro (enfrentando com sua posição austera os países do sul da Europa) ou a guerra na Ucrânia.

Os líderes dos outros três principais partidos declararam que não formariam parte de uma coalizão liderada pelo PVV.

No entanto, Pieter Omtzigt, cuja formação Novo Contrato Social obteve 20 assentos segundo a pesquisa de boca de urna, disse estar "disponível" agora, mas alertou que a negociação "não será fácil".

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Para a formação do último governo, foi necessário o recorde de 271 dias. E, por enquanto, a incerteza é total.

- "Problemas mais graves" -

Geert Wilders faz parte do cenário político neerlandês há décadas, construindo sua carreira sobre uma cruzada contra o que ele chama de "invasão islâmica" no Ocidente.

Seus desentendimentos com a justiça neerlandesa, que o considerou culpado de insultar os marroquinos - a quem chamou de "escória" -, e as ameaças de morte, que o mantêm sob proteção policial desde 2004, não o desanimaram.

Para essas eleições, Wilders buscou aprimorar sua imagem, suavizando algumas de suas posições e defendendo que há "problemas mais graves" do que reduzir o número de solicitantes de asilo, como "segurança e saúde".

Após votar em Haia, ele disse à imprensa que seria primeiro-ministro "para todos nos Países Baixos, independentemente da religião, origem ou sexo".

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Diederick van Wijk, analista do Instituto Clingendael, disse à AFP que os Países Baixos estão em "território inexplorado" após a "vitória esmagadora" de Wilders.

Na opinião desse especialista, os outros partidos cometeram um erro estratégico ao focar na imigração, levando o debate para o território do PVV.

Lizette Keyzer, empresária de 60 anos, disse ter "palpitações no coração" ao ver as pesquisas de boca de urna. O país "está indo na direção da direita. Esperamos que não seja assim totalmente", afirmou.

- "Nexit" -

As medidas anti-imigração propostas pelo PVV incluem restabelecer os controles de fronteira neerlandeses, deter e deportar imigrantes ilegais, devolver solicitantes de asilo sírios e reintroduzir autorizações de trabalho para trabalhadores intracomunitários.

Quanto ao islã, o manifesto diz que os "Países Baixos não são um país islâmico. Nem escolas islâmicas, nem alcorões, nem mesquitas" e propõe proibir o uso do véu em edifícios governamentais.

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Na política externa, defende os "Países Baixos em primeiro lugar", o que inclui fechar seu escritório de representação em Ramallah, na Cisjordânia, e aproximar laços com Israel, particularmente com a transferência de sua embaixada para Jerusalém.

Um "referendo vinculante" sobre um "Nexit" - a saída dos Países Baixos da UE - também figura no programa, assim como o "cessar imediato" da ajuda ao desenvolvimento.

Sua vitória já foi aplaudida pelo primeiro-ministro nacionalista húngaro, Viktor Orbán, abertamente confrontado com Bruxelas, que comemorou os "ventos de mudança" nos Países Baixos.

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© Agence France-Presse

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