Justiça condena Vale, Samarco e BHP a pagar R$ 47,6 bilhões por desastre de Mariana

As mineradoras Vale, Samarco e BHP terão que pagar R$ 47,6 bilhões pelos danos causados pelo rompimento da barragem de Mariana, em Minas Gerais em 2015, uma tragédia que matou 19 pessoas e devastou a região, determinou a justiça nesta quinta-feira (25).

"As sociedades BHP, Vale e Samarco foram condenadas ao pagamento de indenização por danos morais coletivos, em razão da violação de direitos humanos das comunidades atingidas", define a sentença.

A decisão estabelece, entre outros pontos, que as gigantes mineradoras brasileiras Vale e Samarco e a australiana BHP deverão desembolsar R$ 47,6 bilhões, de acordo com o documento. A esse montante deverão ser acrescidos os juros a partir de 5 de novembro de 2015, quando ocorreu a tragédia ambiental.

O juiz federal substituto Vinicius Cobucci, da 4ª Vara Federal Cível e Agrária da SSJ de Belo Horizonte, determinou que a quantia vá para um fundo administrado pelo governo federal e seja utilizada em projetos e iniciativas nas áreas impactadas.

O juiz argumenta que, como resultado do acidente, "as comunidades foram impactadas em sua moradia, e relações pessoais", mas também que "pessoas foram mortas" e "houve degradação ambiental".

"O rompimento gerou efeitos no ecossistema, com interferências negativas em várias cadeias produtivas e processos ecológicos", escreveu.

As empresas têm 15 dias para recorrer da decisão.

O pedido de indenização por danos para cada vítima individualmente considerada foi rejeitado "por critérios técnicos".

"O pedido não trouxe elementos mínimos para identificar as categorias dos atingidos e quais danos estas categorias sofreram", aponta o documento, que deixa aberta a possibilidade de que "um novo pedido poderá ser apreciado, se atender aos requisitos mínimos legais".

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- Demanda pendente -

Em maio, a Justiça britânica adiou de abril para outubro de 2024 a análise de uma ação coletiva (com mais de 700.000 participantes) vinculada também ao desastre de Mariana, que exige bilhões de libras da BHP.

A gigante anglo-australiana era coproprietária, junto com a Vale, da mineradora brasileira Samarco, que administrava a barragem.

O colapso da barragem perto das cidades de Mariana e Bento Rodrigues, em Minas Gerais, despejou quase 40 milhões de metros cúbicos de resíduos minerais altamente contaminantes.

O tsunami de lama percorreu 650 km pelo Rio Doce até o Atlântico, devastou cidades, matou 19 pessoas e destruiu a flora e a fauna em toda a região, que abriga o habitat ancestral dos indígenas krenak.

A condenação do acidente de Mariana vem a público no dia em que completam cinco anos do acidente em Brumadinho, outra tragédia da mineração que tirou a vida de ao menos 270 pessoas e deixou graves consequências ambientais.

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Em 25 de janeiro de 2019, uma barragem, também de propriedade da Vale, com mais de 11 milhões de metros cúbicos de resíduos de mineração, se rompeu e cobriu de lama a região, também em Minas Gerais.

Em 2021, a empresa aceitou pagar quase 38 bilhões de reais em indenizações, incluindo trabalhos de limpeza ambiental. A Vale disse que também alcançou acordos individuais para pagar outros 3,5 bilhões de reais às famílias das vítimas e outros afetados. 

Em janeiro de 2023, um tribunal federal processou o diretor-executivo da Vale, Fabio Schvartsman, e outras 15 pessoas por este desastre.

Os promotores alegam que a Vale e a consultora alemã Tuv Sud, que auditou a segurança da empresa, atuaram em cumplicidade para ocultar o risco de colapso.

Os advogados de defesa negam as acusações.

Tuv Sud também enfrenta um julgamento na Alemanha.

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© Agence France-Presse

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