Sobreviventes da guerra civil na Guatemala pedem atenção ao novo governo

Sobreviventes e familiares de vítimas da guerra civil na Guatemala (1960-1996) marcharam, neste domingo (25), na capital, para lembrar os milhares de mortos do conflito e chamar a atenção do novo governo do presidente social-democrata Bernardo Arévalo. 

Com flores, pequenas cruzes de madeira e fotografias, dezenas de pessoas, em sua maioria indígenas, caminharam no centro histórico da Cidade da Guatemala em comemoração ao Dia Nacional da Dignidade das Vítimas do Conflito Armado. 

"Temos familiares desaparecidos: avós, tios, não se sabe se ainda estão vivos", disse à AFP Catarina Bernal, uma das manifestantes que chegou do município maia de Nebaj, no oeste do país.

"Esperamos do governo que atenda nossos direitos", acrescentou a mulher, vestida com seu traje tradicional colorido. 

O Dia Nacional é comemorado há 20 anos por ocasião da data em que foi apresentado, em 1999, o relatório Memória do Silêncio da Comissão para o Esclarecimento Histórico, patrocinada pela ONU, que responsabilizou as forças de segurança do Estado, principalmente o Exército, por 93% das violações dos direitos humanos durante a guerra.

Segundo o relatório, a guerra deixou cerca de 200.000 mortos e desaparecidos, muitos deles em massacres cometidos por militares em comunidades indígenas. 

"A história está nos apresentando uma oportunidade de reconstruir o caminho da paz", disse o representante das vítimas, Miguel Itzep, em um ato no Palácio Nacional, aonde chegou a caminhada, e do qual a vice-presidente, Karin Herrera, participou. 

Itzep pediu ao novo governo, que assumiu em 14 de janeiro, a criação de programas abrangentes de atendimento que incluam a busca por pessoas desaparecidas. O líder denunciou que nos últimos 12 anos os governos de direita "pisotearam" o "caminho da paz".

Herrera destacou que a marcha é uma "reivindicação justa" e assegurou que seriam diferentes de seus antecessores. "Este governo seguirá por outro caminho", indicou a vice-presidente.

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"O problema é que grande parte da reparação digna não foi cumprida [...] e acredito que este é um bom momento. O novo governo vai retomar isso", disse à AFP a líder indígena Rigoberta Menchú, Prêmio Nobel da Paz em 1992.

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© Agence France-Presse

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