EUA, Guatemala e México se coordenam contra crise migratória

A Guatemala anunciou, nesta quarta-feira (28), que acolherá em abril uma cúpula regional sobre migração, durante uma reunião em Washington com Estados Unidos e México, na qual se decidiu apoiar as populações marginalizadas e criar um grupo de trabalho para melhorar a segurança nas fronteiras.

A migração irregular é um dos temas que mais preocupam os americanos a poucos meses das presidenciais de novembro.

"É um tema de importância crítica para o presidente [Joe] Biden", declarou Vanessa Vidal Castellanos, porta-voz adjunta do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca em uma entrevista coletiva por videoconferência.

O número recorde de migrantes e solicitantes de asilo que chegam aos Estados Unidos se tornou uma dor de cabeça para o presidente democrata, a quem os republicanos acusam de não fazer o suficiente para resolver esta questão.

Desde janeiro de 2023, a patrulha fronteiriça dos Estados Unidos já interceptou mais de 2,7 milhões de migrantes em situação irregular na fronteira com o México, dos quais mais de 800 mil eram mexicanos e mais de 285 mil, guatemaltecos, segundo dados oficiais.

O governo Biden permanece em contato constante com seu vizinho do sul e está convencido de que a recém-chegada ao poder do progressista Bernardo Arévalo na Guatemala será uma grande ajuda.

- 'Fantástica' -

Foi uma reunião "fantástica" porque é a primeira trilateral, declarou aos jornalistas a chanceler mexicana Alicia Bárcena.

"Vamos trabalhar juntos nas causas estruturais da migração, em explorar vias regulares de mobilidade laboral, em como vamos proteger" as fronteiras, assim como em infraestrutura, segurança e "na troca de informações sobre o tráfico de pessoas, drogas, armas", resumiu.

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"Raízes, causas, talvez sejam palavras que acrescentamos a uma palavra que resume tudo, que é desenvolvimento, que é o que não temos", declarou seu colega guatemalteco, Carlos Ramiro Martínez. 

Nesse sentido, os participantes propuseram "promover investimentos na Guatemala que desenvolvam infraestrutura e ampliem o acesso a saúde, educação, energia elétrica e habitação", diz um comunicado conjunto.

Também ressaltaram a necessidade de fomentar a produtividade econômica, impulsionar as cadeias de abastecimento e criar empregos na região.

Segundo Eric Jacobstein, um alto funcionário do Departamento de Estado, ficou estabelecido "apoiar as populações marginalizadas, indígenas, mulheres" e "fazer mais no Altiplano Ocidental" da Guatemala, de onde vêm muitos migrantes.

- 'Contenção' -

Quanto à segurança, os três países falaram da "necessidade" de "coordenar melhor a contenção nas fronteiras de maneira digna e humanitária", afirmou, por sua vez, Blas Núñez-Neto, subsecretário do Departamento de Segurança Doméstica (DHS, na sigla em inglês) dos Estados Unidos na entrevista coletiva.

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Para isso, comprometeram-se a estabelecer um grupo de trabalho trilateral "de caráter operacional".  

As polícias dos três países vão colaborar "para detectar as deficiências em matéria de segurança, trocar informações e elaborar planos operacionais coordenados", informa o comunicado conjunto.

Os três voltarão a falar de migração em abril, mas desta vez com seus vizinhos.

A Guatemala anunciou que acolherá a reunião regional da Declaração sobre a Migração e Proteção de Los Angeles, lançada na Cúpula das Américas de 2022.

"Os países de origem, de trânsito, de destino devem trabalhar juntos porque nenhum país por si só pode enfrentar este desafio de forma eficaz", ressaltou o secretário de Estado americano Antony Blinken.

Para o México, é preciso fortalecer "as vias regulares" e garantir que as pessoas "encontrem" as oportunidades, explicou Bárcena.

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O governo Biden criou uma série de "vias legais" para imigrar aos Estados Unidos, como a possibilidade de marcar entrevistas através de um aplicativo de celular (CBP One), realizar os trâmites nos países por onde os migrantes passam ou solicitar permissões humanitárias e de reagrupamento familiar. 

Estas vias incluem vistos de trabalho, que são muito importantes tanto para o governo do presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador quanto para Arévalo. 

A reunião acontece um dia antes de Biden e Donald Trump, seu antecessor e possível rival nas eleições de novembro, viajarem até a fronteira com o México para discutir a crise migratória.

O México, cujas eleições acontecem em junho, exige insistentemente a regularização de milhões de migrantes que vivem nos Estados Unidos, uma das promessas de campanha do atual presidente americano que nunca se concretizou devido à oposição republicana.

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© Agence France-Presse

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