Lei britânica de expulsão de migrantes para Ruanda recebe críticas de organizações internacionais

O Reino Unido enfrenta as primeiras críticas internacionais a seu plano de expulsão de migrantes sem documentos, aprovado na segunda-feira no Parlamento e que o primeiro-ministro conservador, Rishi Sunak, classificou nesta terça-feira como "histórico".

A ONU pediu ao Reino Unido para "reconsiderar o plano" de deportações ao país africano, o que segundo as Nações Unidas "cria um precedente perigoso no mundo".

O Alto Comissário dos Direitos Humanos da ONU, Volker Türk, e seu homólogo para os Refugiados, Filippo Grandi, pediram ao Reino Unido que, em vez disso, "adote medidas práticas para lidar com os fluxos irregulares de refugiados e migrantes, com base na cooperação internacional e no respeito da legislação internacional dos direitos humanos".

O Comissário do Conselho da Europa para os Direitos Humanos, Michael O'Flaherty, destacou que esta lei "atenta contra a independência da justiça".

As associações de defesa dos direitos humanos também criticaram a lei aprovada no Parlamento britânico.

"É uma vergonha nacional e deixará uma mancha na reputação moral deste país", afirmou Sacha Deshmukh, diretora da Anistia Internacional no Reino Unido.

- "Em 10 a 12 semanas" -

O Parlamento britânico aprovou na segunda-feira à noite um polêmico projeto de lei que autoriza a expulsão para Ruanda, país africano a 7.000 km de distância da Inglaterra, de demandantes de asilo que entram de maneira ilegal no Reino Unido.

O texto agora deve receber a formalidade da assinatura do rei Charles III antes de entrar em vigor.

Continua após a publicidade

O governo espera iniciar as expulsões "em 10 a 12 semanas", segundo Sunak.

Mas as primeiras reações no mundo contra a lei apontam que novos recursos jurídicos serão apresentados, algo que acontece há alguns anos e que impediu a implementação do plano desde que o primeiro-ministro conservador Boris Johnson apresentou o projeto em maio de 2022. 

A nova lei aprovada pelo Parlamento foi uma resposta ao último obstáculo jurídico ao plano, depois que o Supremo Tribunal do Reino Unido o interrompeu em novembro de 2023 por considerá-lo ilegal.

A adoção da nova versão, chamada de "histórica" pelo primeiro-ministro britânico, envia o alerta, segundo Rishi Sunak, de que "se alguém chega de forma irregular, não poderá permanecer".

Ruanda também expressou "satisfação" com a aprovação do texto, em uma declaração da porta-voz do governo Yolande Makolo, que acrescentou que as autoridades estão "impacientes para receber as pessoas que serão realocadas em Ruanda".

Após o recorde de 45.000 pessoas que atravessaram o Canal da Mancha em 2022, número que caiu para cerca de 30.000 em 2023, mais de 6.200 utilizaram a mesma via de maneira clandestina para seguir da costa francesa até a britânica em pequenos barcos desde o início de 2024, o que representa um aumento de mais de 20% em relação ao mesmo período do ano passado.

Continua após a publicidade

- Mortes no Canal da Mancha -

Cinco migrantes, incluindo uma menina de quatro anos, morreram na madrugada desta terça-feira quando chegavam à costa britânica a partir da França em uma embarcação que transportava 110 pessoas.

"Estas tragédias têm que parar. Este governo está fazendo todo o possível para acabar com este comércio, deter barcos e, em última instância, quebrar o modelo de negócio dos grupos de contrabandistas, para que não coloquem vidas em risco", afirmou o ministro britânico do Interior, James Cleverly, nas redes sociais.

O governo Sunak acredita que a política de "parar os barcos" vai dissuadir os migrantes e amentará a popularidade do Partido Conservador, que está em grande desvantagem nas pesquisas em relação ao Partido Trabalhista, após 14 anos de governo.

As eleições legislativas devem acontecer até o fim de janeiro de 2025, mas a data ainda não definida.

O governo conservador pressionava pela aprovação do texto, que obrigará os juízes a considerar a nação do leste da África como um país seguro para os migrantes expulsos.

Continua após a publicidade

Ruanda se apresenta como um dos países africanos mais estáveis, mas grupos de defesa dos direitos humanos acusam o presidente Paul Kagame, no poder desde 1994, de governar em um clima de medo e repressão.

bur-psr/zm/fp

© Agence France-Presse

Deixe seu comentário

Só para assinantes