Sánchez anuncia que permanecerá no cargo de primeiro-ministro da Espanha

O presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, anunciou nesta segunda-feira (29) que continuará à frente do Executivo após cinco dias de reflexão e silêncio devido ao assédio pessoal que diz sofrer da oposição, que o acusou de zombar do país.

"Decidi continuar, continuar com ainda mais força, se possível", disse Sánchez em uma mensagem ao país do Palácio da Moncloa.

Assim, foi encerrada a incerteza que começou na quarta-feira, quando Sánchez anunciou que precisaria de alguns dias para refletir sobre sua renúncia, criticando o "assédio e derrubada" da direita e da extrema direita à sua família depois que veio à tona a abertura de uma investigação judicial contra sua esposa, Begoña Gómez, por suposta "corrupção".

Um acostumado a recorrer a jogadas de efeito político, Sánchez cancelou sua agenda pública até esta segunda-feira, cancelando sua aparição em comícios durante o primeiro fim de semana de campanha para as eleições regionais cruciais de 12 de maio na Catalunha, onde os socialistas buscam remover os independentistas do poder.

"Mostraremos ao mundo como se defende a democracia, acabemos com este lamaçal da única maneira possível, através da rejeição coletiva serena e democrática, para além das siglas e das ideologias, que me comprometo a liderar firmemente como presidente do governo espanhol", continuou.

À noite, em uma entrevista na televisão pública, Sánchez explicou que sua esposa lhe pediu para não entregar o cargo: "foi a primeira a me dizer para não renunciar", explicou.

Além disso, ele exigiu o fim dos "insultos na vida pública", mas mostrou-se pessimista: o assédio "vai se intensificar", estimou.

- 'Comédia', 'teatro' -

Em sua mensagem ao meio-dia, Sánchez disse que as manifestações em Madri e em outros pontos da Espanha neste fim de semana haviam "influenciado decisivamente" sua decisão de continuar.

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Caso Sánchez tivesse renunciado, a Espanha teria caminhado para novas eleições gerais, um ano após as de julho passado.

A decisão de Sánchez provocou expressões de alívio entre os socialistas e críticas severas dos demais partidos.

O líder da oposição, Alberto Núñez Feijóo, do conservador Partido Popular, qualificou o anúncio de "vergonha" e "ridículo", e acusou Sánchez de zombar dos espanhóis.

"Ele brincou com uma nação de 48 milhões de espanhóis", sentenciou.

"Assistimos a uma comédia, a uma cortina de fumaça [...] um ato eleitoral de cinco dias", disse o presidente regional catalão Pere Aragonés, da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), partido aliado dos socialistas no Congresso espanhol e adversário no âmbito regional.

O anúncio de Sánchez permitirá que ele saia de seu retiro para se juntar à campanha eleitoral na Catalunha, um bastião de votos para ele.

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"Durante esses cinco dias, testemunhamos um teatro grosseiro, indignante e vitimista, que nos mergulhou coletivamente em uma vergonha internacional", lamentou o líder do partido de extrema direita Vox, Santiago Abascal.

- Sob sigilo -

A investigação contra a esposa de Sánchez, que está sob sigilo, foi aberta após uma denúncia da associação 'Mãos Limpas', próxima da extrema direita.

O Ministério Público pediu o arquivamento da ação. A 'Mãos Limpas' admitiu que se baseou exclusivamente em informações da imprensa.

Segundo o portal 'El Confidencial', a investigação envolve os vínculos de Begoña Gómez com o grupo turístico espanhol Globalia, proprietário da companhia aérea Air Europa, quando esta última estava em negociações com o governo para obter um resgate durante a pandemia de covid-19, o que acabou conseguindo.

Em sua carta aos cidadãos divulgada na quarta-feira, Sánchez, que governa em aliança com a extrema esquerda e com o apoio dos partidos nacionalistas e independentistas bascos e catalães, repudiou as "denúncias tão escandalosas quanto falsas", que na opinião dele emanam de uma campanha organizada por "interesses da direita e da extrema direita [...] que não aceitam o veredicto das urnas".

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"É uma estratégia de assédio e derrubada", acrescentou o primeiro-ministro, cujas medidas, como uma lei de anistia para os independentistas que participaram na tentativa de secessão da Catalunha em 2017, enfrentaram a rejeição frontal da oposição de direita.

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© Agence France-Presse

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