ONG exige justiça 44 anos depois de massacre em um rio em El Salvador

Uma organização de direitos humanos de El Salvador pediu nesta terça-feira (14) "justiça e reparação" para as 600 pessoas massacradas pelos militares nas margens de um rio há 44 anos, enquanto tentavam escapar da guerra civil. 

Em 14 de maio de 1980, mais de 600 crianças, mulheres e idosos foram assassinados na comunidade Las Aradas, às margens do rio Sumpul, na fronteira com Honduras, cerca de 100 km ao norte de San Salvador. 

Uma investigação realizada pela ONU concluiu em 1993 que os militares "mataram deliberadamente" estes civis "não combatentes" que tentavam atravessar o rio para se refugiar em Honduras. 

A ONG Tutela Legal, que denunciou o massacre na Justiça em 1992, acusa desses crimes membros do Exército, da extinta Guarda Nacional e da Organização Democrática Nacionalista (Orden), grupo paramilitar que colaborou com as Forças Armadas no combate à guerrilha de esquerda. 

Um relatório da ONU estabeleceu ainda que "o massacre foi possível devido à cooperação das Forças Armadas hondurenhas, que impediram a passagem de residentes salvadorenhos" para o país vizinho.

O general José Guillermo García, 90 anos, então ministro da Defesa de El Salvador e que liderava o grupo de oficiais acusado de cometer o massacre, também tem um mandado de prisão pelo assassinato de quatro jornalistas holandeses em março de 1982. 

Para evitar ir para a prisão por conta deste último caso, García está internado há 21 meses em um hospital privado. 

Durante a gestão de García, considerado o soldado mais poderoso das Forças Armadas à época, foram cometidos 41 massacres, segundo a ONG de direitos humanos Cristosal.

- "Indulto para todos" -

Enquanto esta ONG busca justiça, um grupo de generais reformados afirmou em comunicado, por ocasião do bicentenário do exército salvadorenho, no dia 7 de maio, "que nenhum soldado deve ser julgado, criticado ou questionado por ter cumprido a missão de defender El Salvador". 

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Na mesma ocasião, o general reformado Humberto Corado, Ministro da Defesa em 1993-1995, pediu indulto para todos os militares. 

Por sua vez, o coordenador da ONG Comissão de Direitos Humanos, Miguel Montenegro, lamentou na segunda-feira que uma comissão parlamentar dominada pelo partido do presidente Nayib Bukele tenha arquivado um projeto de lei para punir os responsáveis pelos crimes durante a guerra civil.

Mais de 75 mil pessoas foram mortas, milhares desapareceram e a economia nacional sofreu pesadas perdas durante a guerra civil salvadorenha.

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© Agence France-Presse

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