Países mediadores urgem Israel e Hamas a aceitarem trégua em Gaza

Catar, Estados Unidos e Egito, mediadores no conflito na Faixa de Gaza, exortaram, neste sábado (1º), Israel e o movimento islamista Hamas a aceitarem o projeto de trégua apresentado ontem pelo presidente americano, após quase oito meses de guerra em território palestino.

Os combates não deram trégua na Faixa de Gaza, sobretudo em Rafah, no sul, depois que Joe Biden revelou na sexta-feira que Israel havia proposto novas diretrizes para um cessar-fogo, um plano classificado de "positivo" pelo Hamas.

Pouco depois do anúncio de Biden, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, insistiu em que a guerra desencadeada pelo ataque de comandos islamistas contra Israel em 7 de outubro só terminaria com a "eliminação" do Hamas, que governa Gaza desde 2007.

O dirigente israelense, que enfrenta uma pressão interna crescente, lembrou hoje que as "condições de Israel para pôr fim à guerra" incluem também "a libertação de todos os reféns e a garantia de que Gaza já não representa uma ameaça" ao país. 

Em um comunicado difundido pelo Ministério de Relações Exteriores do Catar, os mediadores cataris, americanos e egípcios pediram "tanto ao Hamas como a Israel que finalizem o acordo que incorpora os princípios esboçados pelo presidente Joe Biden".

O líder da oposição israelense, Yair Lapid, também instou Netanyahu a atender ao chamado de Biden e lhe ofereceu apoio caso seus aliados de extrema direita na coalizão renunciem ao governo.

Neste sábado, tanto o ministro de Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, quanto o de Finanças, Bezalel Smotrich, ameaçaram renunciar se Netanyahu aceitar o plano apresentado por Biden. 

Sem os partidos desses dois ministros, a coalizão de Netanyahu perderia a maioria no Parlamento.

- Plano de três fases -

Netanyahu também enfrenta uma oposição crescente dos israelenses, que voltaram a se manifestar neste sábado perto do quartel-general militar no centro de Tel Aviv.

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"Biden é nossa única esperança", declarou à AFP Abigail Zur, manifestante de 34 anos, em referência ao plano exposto pelo presidente americano.

O plano de três fases proposto por Israel, segundo Biden, começaria com uma trégua que incluiria a retirada das tropas israelenses das áreas povoadas de Gaza durante seis semanas e a libertação de alguns reféns detidos pelo Hamas em troca de prisioneiros palestinos. 

O cessar-fogo temporário poderá se tornar "permanente" se o Hamas "respeitar os seus compromissos", detalhou. A próxima fase incluiria a libertação de todos os reféns. 

"É hora de esta guerra terminar, de que comece o dia seguinte", ressaltou o presidente dos Estados Unidos. 

O conflito eclodiu em 7 de outubro, quando comandos islamistas mataram 1.189 pessoas, a maioria civis, no sul de Israel, segundo um relatório da AFP baseado em dados oficiais israelenses. 

Os milicianos também sequestraram 252 pessoas. Israel afirma que 121 permanecem sequestradas em Gaza, das quais 37 teriam morrido. 

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Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma ofensiva aérea e terrestre que até agora deixou 36.379 mortos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do território palestino.

A proposta de paz gerou reações internacionais positivas e o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu a ambas as partes que aproveitassem "a oportunidade" para conseguir uma "paz duradoura no Oriente Médio". 

Mas, em mensagens publicadas na rede social X, os ministros de extrema direita israelenses ameaçaram implodir a coalizão se o plano for efetivado. 

Ben Gvir disse que seu partido "dissolveria o governo", enquanto Smotrich afirmou que se negaria a "fazer parte de um governo que aceite o esquema proposto".

"Exigimos que a guerra continue até que o Hamas seja destruído e retornem todos os reféns", escreveu, acrescentando que se opunha à volta dos deslocados palestinos ao norte de Gaza e à "libertação em massa de terroristas" em uma troca de prisioneiros.

- Tanques e bombardeios em Rafah -

Nas últimas semanas, as forças israelenses têm avançado em direção ao centro de Rafah, uma cidade no sul da Faixa de Gaza onde o Exército lançou uma ofensiva no início de maio para, segundo ele, destruir os últimos batalhões do Hamas, considerado uma organização "terrorista" por Israel, Estados Unidos e União Europeia.

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Neste sábado, moradores relataram disparos de tanques no bairro de Tal al Sultan, no oeste da cidade, enquanto testemunhas no leste e no centro de Rafah descreveram intensos bombardeios de artilharia.

Antes do início da operação israelense na cidade, a ONU estimava que 1,4 milhão de pessoas estavam abrigadas em Rafah. Desde antão, um milhão já fugiu da cidade, segundo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA). 

O Exército israelense também bombardeou o campo de deslocados de Nuseirat, no centro, e o bairro de Zeitun, na Cidade de Gaza, no norte, segundo testemunhas.

Representantes de Egito, Israel e Estados Unidos vão se reunir neste domingo no Cairo para falar da passagem de Rafah, na fronteira com o Egito e fechada há quase um mês, anunciou a mídia egípcia Al Qahera News. 

A passagem é um ponto chave para a entrada de ajuda humanitária em Gaza. A ONU adverte reiteradamente para o risco de fome no território.

burs-ami/kir/sag/aa/dd/rpr

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© Agence France-Presse

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